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Cronicas-->Kelly, inconquistável -- 30/11/2012 - 06:08 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

--Você se considera uma mulher fácil?
--Difícil dizer (risos); Acho que sou uma pessoa difícil que leva uma vida mais difícil, mas não está fácil para ninguém. Veja, tanta gente sofrendo e nós aqui, em meu apartamento, discutindo sexo doas anjos. Aliás, que expressão grosseira. Um absurdo, e lá anjo tem sexo?
--Não tem?
--Sexo não é coisa de anjo, meu bem. Anjo toca harpa. Gente é feita de desejos, carne; luz nos olhos.
--Como você entende disso?
--Mais do que as pessoas imaginam. Num olhar, eu posso ver se o camarada tem um quê de mistério, numa tomada de olhos, eu posso dizer que o desejo dele é obsceno. Quando vejo um moço assim triste, eu procuro fazer com que a vida lhe pareça mais suave. Pelo menos naquele instante, aquele breve instante. Sabe? Abelha na flor, sabe?
--Sei.
--Escreve aí, não vá querer que eu desenhe, vai?

E Kelly gesticula, o copo de gin tônica com mil reflexos. Ela sabe usar o jogo de cena, ela sabe fazer drama. Daria uma bela atriz, se não rimasse a vida por um triz que leva. Ou que levava, porque ela jura que faz outras trabalharem por ela, enquanto colhe os louros.

--Isso não lhe incomoda?
--Por quê?
--Pena das outras.
--Você não tem ideia. São víboras, uma querendo passar a perna na outra. É impressionante!
--Parece gente que conheço.
--Este mundo é muito estranho. Veja, eu como poderia saber que ia virar estrela de um livro de contos de sacanagem?
--Não é bem isso.
--Está bem, um certo livro de memórias...
--E alguém já tentou lhe conquistar, digo, mais que os outros???

Ela pensa. Esmaga o cigarro no cinzeiro, as chispas voam longe. Mexe nos cabelos brilhantes com luzes de ouro e fagulhas como estrelas de bronze.

--Não mais do que Hans, o alemão compositor.Ele me adorava, adulava com flores, eu não me faço de rendida.Ele adorava Wagner, o preferido do fuehrer. Eu já não. Mas quando ele vinha com a terceira de Mahler, ah, aí eram explosões e duvido que um qualquer se dignasse a ouvir o que ele ouvia nas entrelinhas, se me entende...E Hans, metade touro, metade armario, deixava de ser Minotauro e ouvia suas musicas em meu ouvido... Talvez tenha sido o mais apaixonado...O problema de todo camarada que cultiva este gosto por música clássica, ou melhor, erudita, pensa que todo mundo deve gostar. De modo que quando ele ouvia aquelas óperas de Puccini, ou as Bodas De Figaro, eu não conseguia parar de rir.

--Ópera?

--Não sei se você conhece, mas tinha um grupo, os Irmãos Marx. Um dos filmes deles era sobre a ópera. O Groucho, o mais engraçado dizia: " Ópera? Puxa, ainda bem que me avisaram. Ponha-me longe desta. Tenho um jogo para assistir" e caía fora. Mas você sabe como são os alemões, rígidos, duros. Isso foi desgastando nossa paixão, eu já nao gostava de transar ouvindo gritos de uma tenor e ele já não me tratava como a princesa Aída. De modo que...

--Tudo que tem começo...

--...Tem fim. Meu Hans deixou um disco que até hoje, em minhas horas de chuva triste, naqueles dias em que cai a ficha, eu ouço.

--Qual é?

--Debussy. E tome absinto, lendo Baudelaire.

Não adianta, gente, só existe uma Grace, Kelly para os íntimos. Só ela para conservar, dentro do que se vê, esta alma maravilhosa.

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