Amanhece. Olho o dia. O sol brilha novamente.
Sou feliz e não sabia.
_ Deus é bom. Age na hora exata sem que se peça.
Grande descoberta eu fiz.
É domingo, dia de sol, missa na igrejinha.
Bebidas no bar da esquina, alegria nas praias, cachoeiras distantes.
Céu claro, nuvens opacas passam vez em quando.
Logo, logo pode chover. Mas depois passa.
Tudo passa tudo passa.
Olho a terra. São poucas as árvores na cidade.
Aqui é "Belo Horizonte" em Manaus.
Ao longe carros apressados, fumaça no ar.
Inicio o abrir e fechar de grades, portas, cadeados...
Vem a tristeza. Me pergunto:
Onde estou? Livre ou prisioneira?...
Busco respostas. Todas elas obscuras.
Sou livre! Feliz! Porque as grades? Cadeados? Portas fechadas?
Meu Deus! Onde deixei o sonho de liberdade?
São tantos como eu. Não estou só. Pelo menos nesta estamos juntos.
Como todo mortal, prisioneiros de pouca coisa, de tantas coisas...
Sonhei um dia quebrar as algemas que me prenderam ao pulso.
Ter uma casa com jardins e crianças correndo livres, flores, frutos.
No portão uma tramela como divisória apenas, grades nunca.
Moro na cidade grande. O castigo, a insegurança me levou como a tantos,
colocar na porta grades, cadeados.
Prisioneiros do nada! Tenho medo de tudo...
O cão ladra é o guardião da casa. Sem salário, avisa,
quando alguém se aproxima.
Próximo daqui a SAPOLÂNDIA, invasão que se agiganta,
num contraste
lá não existe grades, as crianças vivem soltas nas calçadas,
lamaçal, ruas. Saem despreocupadas.
Qual a razão? Uns com tanto outros sem cada.
Crianças que pedem pão, roupas, calçados.
São livres, livres, livres.
Liberdade que pagamos caro e não temos.
Eles possuem o que nos falta.
CORAGEM.
São pobres, com tudo. Somos ricos, sem nada.
UTOPIA, UTOPIA, UTOPIA!...
Manaus, 21.03.1992
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Nota da autora- Resolvi abrir uma página em Cronicas
para publicar parte de um trabalho de dez anos
como radialista, Momento poético, assim posso levar
aos leitores, um trabalho sério e feito com amor.
Manaus, 09.03.2013