MULHER! GUERREIRAS SOLITÁRIAS!... (diário de uma mãe)
Ana Zélia
Mulher! Uma simbiose de amor e ódio em sintonia.
Quando escapam das mãos assassinas e frias dos maridos,
companheiros a vingança imediata ou tardia virá da maneira mais covarde.
Um rosto virado, um beijo negado, o filho que se vai ou agride com palavras de ódio
Ameaças insuportáveis e um dia o coração combalido, sofrido, para.
Não suporta os poemas escritos com a força satânica do ódio, da vingança.
“Pseudo mãe”: é um poema com esta qualificação. Vejam a transcrição.
Nasci do nada ao nada voltarei.
Sou nada porque o nada me gerou.
A víbora rasteja e amaldiçoa minha vida, acabam minhas esperanças, essa erva carcomida,
afasta meus amigos, destrói minha alegria.
Renova-se em mim o ódio a cada novo dia.
Víbora, serpente, demônio vil, cruel.
Seu coração é espinho, suas palavras fel.
Do seu útero envenenado nasci para sofrer.
Nem a morte, nem a vida, me fazem deste mal esquecer.
Pseudo criatura a quem chamo de mãe, dantesca esta figura que entala a minha vida,
destrói meu pensamento, alimenta a ferida.
Afaste-se sangrenta, estúpida e cruel, qualquer calvário seria melhor no inferno ou no céu.
Essa cólera nauseabunda, cheia de ojeriza faça tudo o que quiser,
contanto que seja a minha guisa!
“Pseudo mãe. Pseudo nada. Pseudo tudo. Pseudo útero.”
O caranguejo se revolta contra o escorpião malvado. Vai para o túmulo do lodo,
encontrar teu destino amaldiçoado.
Pseudo mãe essa criatura que meu nariz escarra
e meu fígado não mais atura. (15.03.1993
O arpão traçado com as palavras feriu mais que as facadas tentadas, os murros de mãos fechadas,
o peito pisoteado, o sangue às golfadas.
Buscando forças no vento, nas tempestades, tormentas que por mais vorazes, passam, a mãe escreveu:
_ Não me peçam pra cantar o mundo, as notas perderam o sentido, o som emudeceu.
Não saberei cantar as flores, elas murcharam em mim.
Não imitarei os pássaros, seus gorjeios emudeceram.
O brilho do sol, nuvens escuras ofuscaram e são tantas...
A beleza do luar morreu quando a lua se escondeu.
Minha alma de gigante tombou frente às palavras mais frias e cruéis que já lei em minha vida.
Tanto ódio a um ventre maldito que a contragosto se fez mãe,
abortou um monstro a quem chamou de filho.
“ MALDITOS VENTRES QUE GERARAM MONSTROS EM VEZ DE GENTE!”
Relendo páginas envelhecidas, guardadas em meio a tantos papéis, vê que a lida continua, busca forças,
vai às profundezas do inferno e tenta falar com o Poderoso maioral, saber porque as pessoas são tão más.
Ao ser recebida percebe que na terra há tantas pessoas investidas de poder para servi-los.
São religiões, crenças, seitas, seres que clamam por ele todo o tempo.
Tentou falar com a rainha de sua linha, não conseguiu, faltava poder, não sabia pedir o mal, nem negociar o bem.
Partiu em busca de outras linhas, são sete as conhecidas.
Lembrou-se ser afilhada de São Benedito, “Rei do Mar” que abençoa e cura quando lhe pedem ajuda.
Aprendeu a dar a Ele todo dia um cafezinho e difundir sua crença, fé. Vibrou na Linha de Pretos Velhos,
na Linha de sua madrinha. Mamãe Oxum ou Senhora da Conceição, Rainha das Águas Doce
e Padroeira de tantas cidades, inclusive a dela.
Lembrou-se da oração que lhe ensinaram:
Minha Virgem Imaculada Conceição, minha alma está pobre e caída, triste e estremecida,
correndo até os pés da árvore da Vera Cruz, correndo até os pés da Mãe de Jesus
e fostes Tu minha santa Mãe que disseste que todo aquele filho que em horas de aflição
clamasse por teu santo nome cento e cinqüenta vezes, seria valido em qualquer ocasião
e é o que eu faço agora. VALHEI-ME NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO!...
Ainda sem forças buscou São Sebastião, ou Oxossi na Linha das Matas, guerreiro que a serviço de Cristo
morreu amarrado a uma laranjeira, flechado com mil flechas certeiras, Ele a socorreu.
Oxossi é o rei das Matas, é vencedor de demandas, é Orixá consagrado, coroado em nossa umbanda,
diz um de seus pontos cantados, desesperada foi a Ogum (São Jorge) Padroeiro do Brasil,
Ele que ela adotou como protetor lhe socorreu; buscou Bárbara, ou Iansã, rainha dos Raios e das tempestades;
foi adiante encontrou Sara, a rainha do povo Cigano,
pediu a Mariana, cabocla que veio de longe, e aqui cantou.
“No Rio Negro, mureru viraram flores, na mata virgem sabiá cantou, é a bela turca que veio de Aruanda,
é Mariana que aqui chegou”,
se ajoelhou aos pés de Marinheiro, homens a quem ela tanto amou.
Estava quase perdendo a batalha, ficando louca em busca de ajuda,
queria tudo de imediato, a paz voltasse ao seu lar.
No desespero chegou a Deus, Pai Oxalá, colocou em seus ombros sua carga,
o nome de seus filhos, rogou a Ele fé, que ela não se perdesse,
estava fraca e precisava de forças. Só assim poderia vencer.
Deus respondeu:
Toda vez que tua carga pesar mais que teu corpo, lembra que meu Filho precisou de um Cirineu,
busque ajuda, vá às matas, aos rios, ao céu e peça. Eu escuto e ajudo.
Meu Deus como sou cruel e ingrata. Tens tanto a fazer e eu só venho atrapalhar,
meus pedidos são pura vaidade, eu não soube criar meus filhos, não mereço ser atendida.
É meu destino carregar meu peso. Mas tenho medo.
Confesso minha covardia.
Quantas vezes nos igualamos a outras mães que vêem seus filhos presos,
mortos, amarguradas, em seus corações, não existe o ódio e os abençoam.
É a vida. (09.12.2008)
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Este artigo é como filme reprisado, de tão bom nos acostumamos , sofremos,
choramos e como guerreiras, vencedoras, emitimos um som bem alto que seja ouvido no mundo.
Respeitem seus pais, eles não tem culpa de te-los posto no mundo. São vítimas do destino. Ana Zélia
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