Domingo. 19 horas. 12/05/2013. Em casa, ligo o rádio. Como sempre, sintonizo a estação predileta (Verde-Oliva 98.7). Com surpresa e comovido, ouço o programa Retretas das Bandas e Fanfarras do Exército. Homenagem à Cavalaria.
Volta ao passado de mais de meio século.
A cada audição, o locutor muito bom, fazia síntese do significado da música que iria exibir. Sem nenhum esforço, uma aula de História do Brasil. Muitas coisas recordei; outras, aprendi mesmo.
Pude relembrar, com saudade, dos tempos de Cidade Livre (planejada para permanecer somente de 1956 a 1960), depois recebeu o nome de Núcleo Bandeirante. Naqueles idos, em Brasília, não havia emissoras de rádio nem de TV. Nosso sistema (único e engrandecedor!) prendia-se a dois veículos:
Um, A Voz de Brasília, plataforma de madeira (como tudo, era assim: não havia construções de alvenaria). A promessa era levar para o Plano Piloto todas as casas e lojas que houvesse no lugar. Não se cobravam impostos; daí, o nome Cidade Livre.
Seu endereço: no meio da Avenida Central (na época, chamada de 1ª Avenida). Ali se faziam propagandas comerciais, anúncios diversos, oferta de canções, mensagens apaixonadas ou aflitivas).
O outro, de recurso mais tímido: Cine Bandeirante (todo de Eucatex). Nele, havia um alto falante enorme que todas as tardes, Ã s 17h, alegrava os ouvintes mais próximos com sua programação. Anunciava os filmes (normalmente faroestes) que deveriam ser exibidos (cinema só Ã noite), fazia alguns anúncios de comerciantes e transmitia recados rápidos de pessoas recém-chegadas que procuravam por conhecidos.
Sistematicamente, começava sua atividade com o prefixo musical de algumas retretas de bandas do Exército. Achava-as lindas. Mas era menino e não poderia jamais entendê-las. Ficaram, porém, no cérebro (e por que não dizer?) também no coração.
Hoje, depois de tantos anos, consegui (graças também ao apresentador da Rádio Verde-Oliva, de muito boa nota), identificar, compreender e sentir nostálgica e culturalmente, o que representam para o País.
Lamentavelmente, o Cine Bandeirante não existe mais. Sua vida não foi muito longa. Creio que de 1956 a 1970. Entretanto, durante sua existência cumpriu, sem nenhum compromisso maior, a missão um pouco altruística de transmitir ao candango entretenimento e cultura.
Registro, de igual forma, que surgiu em 1959, na Avenida Central, o Cine Brasília, mais elegante e sofisticado, que exibia películas extraordinárias e até exigia melhor indumentário dos frequentadores, mas não possuía o poder de som do Cine Bandeirante. Era luxuoso, disputado e tinha alguma ventilação. Filas havia para entrar. Parece que muito mais telespectadores do que assentos e até espaço para ficar em pé.
Encerrando este breve relato, chego a conclusão de que estou sempre aprendendo: a vida oferece oportunidades surpreendentes, sem nada cobrar. Nunca imaginei que - depois de 56 anos - poderia escutar as músicas expressivas que executava o sistema de som (humilde e sem grande potência) do Cine em que assisti a películas memoráveis, nos meus momentos de folga (raros), de adolescente.
Que Deus me permita possa reviver outros passados com a mesma alegria. Amém!