Nunca se pensa que um dia afinal se dá a conta de que os tempos passam. Vejo-me agora, emocionado, com as marcas indeléveis que ele me deixou e com as inexoráveis assinaturas do progresso das eras através dos estalidos que movem minhas articulações ao levantar-me para ver os retratos dos momentos de nossa história pessoal. Vamos ao ponto, em breve e boa hora: Caso uma filha agora, em breve outra se tornará mais uma ave a voar nos horizontes do mundo que lhes deixa as portas abertas. Caso uma filha, para que outra assim também se destine ao outro seu companheiro, como é de ser da Vida, como o são as coisas. De parte minha, vejo que de mau pai não pude ser chamado, embora melhor pudesse sê-lo e se o fosse, talvez não me arrependesse tanto de não haver sido; quem sabe?
O fato inexorável é que vou de vento em popa, seguro de que as velas se enfunam e eu vejo novas quimeras à frente, com a sereia que orna a frente de meu barco a guiar a quilha contra as ondas que escarpam fundos e montanhas de verde espumejante. Já fui mais medroso, sim! Agora manejo meu leme, certo de que lançarei âncora na hora e no minuto certo, quando eu achar que cumprida está a navegação com quem quer que esteja ao meu lado. O importante é que, ao fim e ao cabo, eu fui meu companheiro, nem sempre solitário, muito menos sempre tristonho. Eu sei que nunca escapei de meu sonho, se é que eu o persegui tanto como torno ao encanto de sabê-lo, agora, o meu tanto que me coube. O sonho que me seguiu me acompanha na navegação deste mar que se aproxima da calmaria, depois das borrascas que todo Homem enfrenta, só, a guiar seu leme sob o sol da luta da Vida; isto é vero.
Caso uma filha, que tem os olhos em flor, olhos de corça, que tem os cabelos em finos fios dourados à mâe, graciosa como uma bailarina, suave e geniosa ao tempo que é o seu; eu a caso e a entrego a um formoso jovem que traz em si as sementes do bom futuro e da compaixão plantadas no seu íntimo e em seu coração. Sigo agora tranquilo, sabedor que o destino de todo Homem, após proceder ao plantio é colher suas sementes, para que das árvores que planta voem mais e mais seguidoras, que frequentem outras terras distantes, quando enfim, terminada a navegação, possa eu registrar passagem, tendo fundeado meu barco à costa.
Terá então chegado o momento de me bandear para lá, onde a Primavera tem eternizadas fontes. Daí, enrolarei as velas de meu barco, olhando o crsitalino mar que me trouxe a estas terras e de cá, verei no espelho do mar, todos os sorrisos que me fizeram, a mim, um navegador orgulhoso.
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