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 | Cronicas-->Arde a tarde... -- 21/09/2013 - 07:31 (Brazílio)  | 
	
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A pracinha defronte o supermercado Big Box do espaço comercial 212/213 sul, no 
 
 
Plano Piloto de Brasília, comporta uns vinte automóveis. Com o entra-e-sai 
 
 
contínuo, as vagas, em geral, não faltam. Tomadores de conta é que, 
 
 
curiosamente, são mais raros e ariscos. A direção do estabelecimento, ciente do 
 
 
desconforto dos fregueses com essa demanda tributária informal, toma 
 
 
providências, senão enérgicas, bastante persuasivas de inibir a atividade desses 
 
 
vigilantes espontàneos. 
 
 
No meu pit-stop lá hoje, pra comprar vitualhas de hábito e vício, um pouquinho 
 
 
antes da uma da tarde, mais com vontade de comer do que varado pela fome, 
 
 
notei, de relance, uma senhora, aparentemente a instruir o filho, um frangote de 
 
 
seus 11 ou 12 anos, a partir na direção onde eu buscava estacionar meu carro, 
 
 
enquanto dela já se aproximava um pressuroso funcionário do Big Box. 
 
 
De terno, ainda que sem ternura, fiz questão de levantar o queixo para ser notado 
 
 
pelo garoto que, hesitantemente, se aproximava de mim. Pretinho, descalço, com 
 
 
uns traços que traíam uma ascendência quilombólico-ameríndia, ele usou de toda 
 
 
sua ousadia, mas sem a malícia e o encardimento dos habitués da profissão, para 
 
 
perguntar, em voz fininha, que parecia querer deixá-lo mudo: "posso vigiá, 
 
 
moço?". Respondi-lhe que sim, reforçando sua confiança: "toma conta aí" e fui às 
 
 
compras.
 
 
Dez minutos ou menos depois, saquinhos de plástico à mão, eis-me de volta ao 
 
 
carro. E neca do menino por perto. E logo eu que havia durante aqueles passados 
 
 
minutos pensado em lhe dar um real, que quiçá iria paliar-lhe a fome do instante, 
 
 
ou acumulada e que acabei, no processo, metamorfoseando aquela premeditada 
 
 
generosidade na compra de um pãozinho, que me saíra a um quinto daquela 
 
 
despesa, sair frustrado agora, sem poder cumprir um ato de caridade... 
 
 
Enquanto matutava no destino do menino e entrava no carro, percebi-o, a 
 
 
distància, já na subida da rua comercial, sentado numa quina de passeio, 
 
 
aparentemente sem coragem ou força até pra olhar pro carro que lhe fora confiado, 
 
 
apalavrado, pra vigiar e faturar o seu trocado. E do outro lado da rua, no outro 
 
 
passeio era a mãe que ia subindo, lentamente, agora levando uma filha menor ao 
 
 
lado, quiçá pensando numa alternativa para o almoço da família - já que a moçada 
 
 
do supermercado os escamuçara de um terreno que lhe parecia antes tão 
 
 
auspicioso... 
 
 
Toquei o carro pra frente, janela aberta e o menino dessa vez viu-me, braço pra 
 
 
fora, o gesto, o saco...E veio na minha direção atrás do pão, que bem sabia, não 
 
 
era de cada dia.  |  
 
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