Sabe lá o que se dá nas pessoas, num domingo cinzento, frio e úmido. Talvez se deem conta das idéias que têm nas cabeças, talvez imaginem que o que têm nas cabeças não é nada mais do que uma nuvem. Lembro-me de uma tia que dizia exatamente isto:
--Hoje estou...com uma nuvem na cabeça.
Sabe lá, um certo poeta se achava uma nuvem sobre calças. A cabeça devia ser uma tormenta, porque se a nuvem já lhe chegava nas calças, imaginem a progressão da coisa. Mas é assim mesmo, e o domingo se integra à percepção dessa turba secreta que nas ocultas câmaras de seus quartos prepara os Cumulus-Nimbus (que tempestades gestam, podem acreditar) e remoem o gosto amargo do dia que virá amanhã.
Hoje estou uma nuvem de pijamas; discreto, já tomei minha cota de gotas de cristal e dardos de luz. Hoje, definitivamente, acho minhas partes espalhadas num céu de chumbo; em boa hora, durmo de graça em qualquer canto, com o bule me olhando, a xícara na mão e...Uma nuvem na cabeça.
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