Usina de Letras
Usina de Letras
130 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62826 )
Cartas ( 21344)
Contos (13290)
Cordel (10347)
Crônicas (22569)
Discursos (3245)
Ensaios - (10543)
Erótico (13586)
Frases (51223)
Humor (20118)
Infantil (5546)
Infanto Juvenil (4875)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1380)
Poesias (141100)
Redação (3342)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2440)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6304)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Forrinhos sem alforria -- 05/11/2013 - 15:44 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Senhor Leão encerrou solenemente sua preleção desejando-nos boa sorte e nos

distribuindo os pacotes individuais que continham a mercadoria a ser vendida:

pequenos forrinhos de plástico que imitavam as guarnições.

Éramos uns dez, entre moças e rapazes, os aspirantes a vendedores. Era hora de

botar mãos - ou bocas - à obra. Não sem antes de firmarmos uma promissória de

150 cruzeiros novos que nos responsabilizava perante o consignatário.

De volta para a pensão onde eu me hospedava, que ficava no Bairro Santo António,

uns quinze blocos distante da Affonso Penna, resolvi fazer o percurso a pé por um

par de razões - além dos sapatos que eram bem turrões: poderia refletir sobre

como colocar em prática os sábios ensinamentos do Mestre Leão e economizar os

trocados da passagem do lotação.

Sem lírios de campo pra considerar, dei uma espiadela nos forrinhos: eram por

demais pequenos, pouco graciosos, mas laváveis. Seriam também vendáveis?

As estratégias de abordagem é que me preocupavam um pouco - mais. Eu já havia

vendido limões, ainda menino, no meu povoado, quatro por um Tamandaré, mas

eram de qualidade, conquanto amargos, digo-lhe a verdade; havia vendido

bananas que, embora compradas aos cachos e por nós consumidas às pencas,

ainda resistiam e se apodreceriam se não fossem passadas pra frente, demais,

eram vistosas, cheirosas e gostosas. Daquelas bananas maçã que não

empedravam. De comércio ainda, havia vendido umas garrafas de fundo de

quintal, cuja limpeza me deu um trabalho danado, mas ao cabo, fora premiado:

cinquenta centavos, no bar do Teco, que logo transformei num par de reluzentes

bolinhas de gude.

Agora, os forrinhos ali, sobraçados. E meus dezoito anos já completados -

responsáveis até para assinar a promissória do Senhor Leão. Era estudante

iniciante de Letras, diploma de alemão, teria a temer o rugido do Leão?

De locubração em locubração, cheguei à pensão. Tinha a tarde à minha frente, a

cama ali rente. E foi no sono que caí, leituras da linguística, do Deutsche

Sprächlehre fur Ausländer podiam esperar. E minha estratégia de vendas se faria,

inicialmente, na minha cidade, bom campo de treinamento, para depois tomar de

assalto a capital.

Fui pro interior no primeiro fim de semana, aproveitaria pra comer bem, ter roupa

lavada e comerciar. De minhas primeiras invectivas, não precisei de muito para

convencer minha mãe e tia Rita das virtudes do novo produto. Dali pra frente,

porém, foi que emperrou o trem. Gente conhecida, vizinha ou mais distante não

achou toada em minha conversa e menos ainda na mercadoria persa.

Na volta à capital, pude perceber quanta falta faz a fala, sobretudo pra quem se

cala. Alemão parecia mais fácil. Já não me lembro agora se devolvi os forrinhos

restantes ao emérito Prof Leão ou se ele vem tentando executar a promissória. São

trinta e nove anos de história. Quem resiste, impermeável, e com o mesmo

descolorido original é o forrinho de mamãe, que chegou a entronizá-lo sob o nosso

oratório.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 9Exibido 259 vezesFale com o autor