Fala-se muito sobre se o mundo seria uma simulação gigantesca; até filmes foram feitos sobre a Grande Mentira. Haveria razão para tais desvarios? Se o mundo é uma ilusão, isto é, Maya, somos meras ilusões da mentira, portanto não podemos julgar quem quer que seja pela falsidade implícita em nosso julgamento, posto que tudo parte do pressuposto que não existe a verdade, só a ilusão dela. Ora, então, de que vale toda nossa ansiedade pela manutenção das regras, se tudo se baseia em eterna mentira? Julguemos pois os loucos: Será que, por nossa imposição, os do lado de lá são injustamente carregados de uma pecha que não lhes diz respeito? Portanto, quem sabe se o muro que os separa de nós não seja, como uma cerca de ar, mais tênue do que parece? Seriam os loucos varridos na verdade nossos preceptores a rir à beça de nossas assim chamadas "virtudes"? Que virtudes são estas, uma vez que são de mentira?
Procuro nos livros e nas bibliotecas meu modelo, meu paradigma e no mais fundo de minha alma, sei que tudo não se passa como deveria, uma vez que há algo de sobreposto, uma imagem do mundo que não passa de um apelo.Há um mal-estar indizível na civilização que nos oprime... Há enormes estudos que comprovam isto e volumes inteiros do que já li simplesmente corroboram que o Autor disso tudo talvez não passe de um autista disfarçado de criança gigante, diuturnamente a jogar dados para cima, com números aleatórios a cercar as possibilidades infinitas do porvir.
Estaremos nós manietados em falsas premissas? Viveremos um sonho em sua origem sinistra, ou a realidade é o que menos se nos depara? Haverá no sorriso da criança bem mais do que dentes de leite? Saberá o velhinho que coça a cabeça desacorçoado que a cadeira em que senta é feita basicamente de vazio?
Não sei, talvez nunca o saiba; a única coisa que sei é que o sono me domina porque em meu sonho, se eu acordar, desmorona mais uma realidade que só se reinicia quando fecho os olhos de tanto pensar que a Mentira, no fundo, está nos olhos de quem a vê.