Já tive encontros com o Infinito. Costumo escrever sobre isso cada vez que me deparo com espelhos. Numa olhadela, percebo minha infinitude, pareço um deus exótico, com essa barba eterna por fazer e essa gloriosa escova de dentes que teima em escorrer sua baba para a pia. Nos meus encontros com o Infinito, vejo-me refletido inúmeras vezes, uma vez que meu espelho se dobra em três e são seis que me olham, ou nove, não importa; todos se escovam e observam suas barbas eternas por fazer, e dezoito mãos se arvoram o gesto de fazer a escova vagar por uma boca que, espessa a barba, se esconde e foge. Diz a boca à escova: Decifra-me, devoro-te. E vou eu e meus oito eus, cada um de sua maneira, eternizando-me. A situação só piora se um espelho se põe de frente ao outro. Para complicar, surge a verde névoa, daí sim segue meu contato com o Infinito. De lá do fundo(se é que alguém se deu ao trabalho de olhar ao fundo das infinitas imagens que se formam em miríades de reflexos de dois lados de um espelho vago), bem de onde eu jamais imaginaria que existisse algo, lá estão os sonhos que persistem. E lá estão os reflexos e as referências de toda uma eterna miragem que é a nossa vida.

Melhor fechar a torneira, em épocas de miragem deslavada, a economia de água ressalta aos olhos.