Amanhã tem a super-Lua. Eu caminhei muito hoje, pensando na super lua de amanhã; se ela for super lua, haverão marés maiores, ondas gigantescas poderão atingir as praias desertas de lobos, seus ganidos poderão ser ouvidos até a Patagónia ( onde não existem lobos, eu presumo) e eu observarei a lua em seus mínimos detalhes, franjas, encostas e crateras. Alguém disse que dez é um número sagrado, porque significa o nove mais um. Tinha para mim que oito seria o número da quadratura do círculo, onde, dentro, há os quatro cantos da divindade. São oito os números do Infinito mas dez é o número sagrado. E amanhã, para sacramentar mais o dia, haverá toda esta lua, com suas vertigens, os sonhos constelados de milhões de poetas, as marés de golfinhos e algas fosforescentes, meu caminho se confundindo com os perfis do dragão e da lança, salve Jorge.
Conseguem imaginar nosso mundo sem essa face prateada ( sempre a mesma) a nos fitar nas noites de insónia ou nas noites dos amantes mais loucos? Sequer consigo imaginar um dia que eu não olhasse para cima e visse, lá, toda a formalidade do pedido de casamento feito à luz baça e fria; também jamais imaginaria que, à lua, gritos de guerra feriram a terra, muitas mortes ao luar se deram e muitos filhos foram concebidos entre amantes alucinados.
Amanhã tem a super lua. Haverão foguetes em Gaza, bombardeios americanos em solo árabe se multiplicarão; nações se levantaram e morreram sob o olhar mortiço e indiferente dela, essa seca companheira desavisada. Quem mandou entrar em órbita? Bem que podia flutuar em direção ao abismo após o caos do impacto, mas enfim...há escolhas. Ela quis nos acompanhar, e vem vendo o homem se estraçalhar e amar há milhões de anos.
Eu agradeço ser presenteado com tal espetáculo amanhã; quisera muitas luas outras, super luas retintas, luas de sangue e de luz. Agradeço sua presença, argêntea companheira.
Daqui, ouvindo meus passos pequeninos, nesse corpo que me deu o Caos, breve sombra se produz à noite alta.
Sigo meus caminhos.