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Cronicas-->O Universo -- 13/08/2014 - 21:54 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

As gotas de orvalho costumam se adensar nas madrugadas frias. Assim, ele olhava a tal Lua, essa que se levanta aí todo fim de tarde e insiste em espalhar o tal brilho prateado pela noite de todo santo dia, pensava ele amargo. Tudo ressumava a gosto de insônia; mesmo a transparência de tal noite o irritava. Sim, há estados de espírito que são perigosos porque há outros que se sonegam. Quando um deixa o vácuo, outro se lhe vem atrás e toma tal proporção que, se não se faz alguma coisa, pode ser que se caia no abismo que flutua na solidão.

Ele caminhava. Caminhava como personagens de um romance russo; caminhava pelo quarto, intrigado com as palavras dela. Por mais que quisesse, ele não a poderia receber. Havia pormenores, detalhes talvez que ela não apreendia ou se o fizera, talvez não juntasse ponto com ponto, mal determinando uma linha de pensamento. O detalhe mais abissal, o sinal mais claro da sua incompreensão diante da inexorabilidade de sua situação era crucial: Como fazer valer argumentos lógicos diante de quem, sem dúvida alguma, ama sem nenhuma medida? Sim, porque o amor, este sentimento,apaga quaisquer obstáculos, supera incertezas diante de fatos óbvios.

--Vinho assombroso. Solidão horrorosa!

Caminhava pelo quarto. Lá fora, num movimento escuso e talvez silencioso, uma árvore gemia no enregelado da escuridão povoada de estrelas. A luz da Lua, essa daí que o irritava, definia bordas, limites sombrios, galhos que mais pareciam garras e folhas que, amarelecidas,ressaltavam a secura do ar cristalino. Cálice, dizia ele, cálice, haverá sombra mais deserta do que eu? A árvore parecia rir de sua miséria oca.

--E tudo isto tinha de acontecer! Por quê comigo? Aonde ela estava com a cabeça? O que, por Deus, o quê ela podia ver em mim, já alentado em anos? Por tanta candura, haveria ela de enfrentar tantas força contrárias e desafiar o vão que nos separa, a mim e a ela, de uma felicidade que só quem já a teve poderia conhecer? Oh ventura!

Olhando o céu distante ele notava um lento movimento de todo o globo invertido, miríades de sóis distantes ( sóis mortos, oh deus, sóis mortos) num lento girar vagabundo.  Tudo mecânica, leis de atração e repulsão. Órbitas distantes, qual as deles paralelas,  condenadas ao desencontro permanente. Olhou com asco o tal cálice. Só não o jogou porque seria humano, demasiado humano fazê-lo e, por tal peça, pagara bom preço para degustar seus vinhos, licores e--sabe-se o que mais, não se importava.

Lembrou-se dela. Suave perfil, olhos redondos e escuros, cabelos sobre a fronte à meia-luz, um sorriso no rosto que a tornava mais adorável aos seus olhos. Olhos redondos, que perscrutavam sua alma já meio ressequida; olhos tristes que expressavam um enorme brilho, um brilho que se chamava esperança; um brilho chamado, ele bem o sabia, paixão em seu lento fogo. Uma coisa com a qual ela mexera, uma doce segredo que ela lhe revelava agora, numa entrevista assim de viés. Ele bem que agora, o cálice vazio, os sóis mortos se elevando no horizonte, a irritante bolacha argêntea; as raras nuvens que passavam rápidas para chover em outra estação, ele bem que agora podia vê-la inteira, bem formada, ali, olhando em seus olhos, travessa e séria, louca e absurda. "Por quê vira, o que vira em meus olhos?"

--Nos seus olhos, eu ví o meu universo.

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