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Cronicas-->Chuva -- 08/11/2014 - 22:11 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O som da chuva lá fora se espalha com nitidez. Inicialmente o pequeno tamborilar cresce em pequenas partes de um todo mais denso, profundo, que vem de lá de longe anunciando novos jorros das nuvens baixas; esse é apenas o começo de um ritmo que toma o mundo aos poucos.A água se aproveita das facilidades de seus vários estados para penetrar nas fendas e gretas, nos interstícios, na terra sofrida que pedia e aprova todas as instâncias do momento. Todas as coisas se paralisam quando os sons se tornam mais breves e menos espaçados. Um clarão, dois maiores, o terceiro que espalha sombras instantâneas. Neste momento eu me calo mais, absorvido pelos rigores da terra, num calar-me respeitoso como o dos gregos ou, mais atrás ainda, com o olhar medroso de um anseio ancestral.

--Você tem medo?

--Tenho.

Não que eu e ela tenhamos algo em comum com o medo. Tenho de admitir que a chuva sempre me fascinou em suas formações tormentosas, desde o cúmulus-nimbus até sua fração mais espalhafatosa de agora, com ribombos e toques operísticos; a natureza tem um quê de teatral, sempre que pode. Nós, homens, imitamos suas caricaturas e pior do que isso, conseguimos no mais das vezes destruir o que ela tenta refazer com as águas que descem do alto, em mantos benéficos que recobrem cidades inteiras.

--Você ia viajar?

--Bem que eu tentei.

Ela passa a mão em meu ombro de maneira delicada mas o trovejar faz seu aperto se tornar mais duro e ela dá uma risadinha nervosa. Posso sentir sua pele fria cada vez que um relâmpago deixa no ar a suspeita de um terrível troar. Ela se encolhe e fica tensa numa espera que eu entendo. Entendo-a toda e em cada uma das partes, em seu porte ereto, em suas pernas de rainha; entendo quando ela me olha assim, nesse reflexo de um sonho na sala escura pela força de uma ventania que, em torno de nós, derruba as cercas que nos protegem de um receio maior do que o de sair e gritar a plenos pulmões que não, que somos livres, dominamos o mundo e...Bem, mas esta é uma obra detalhada, toda esta construção que nós inventamos para sermos tão íntimos e ela nem me pede tanto agora...Só que eu esteja ali, com ela, dando-lhe a mão. Apenas isto, sem mais outra intenção, só aquela.

--Fica mais um pouco?

--Claro!

E como é encantadora sua presença. Tem uma musicalidade: a voz tem um tênue timbre, os cabelos farfalham como cristais branco-azulados pelos flashes vindos das janelas altas da sala de sua casa. A cortina de uma delas lança um jorro de vento frio, ela me fita no escuro, a chuva agora tem pedras, bolas do tamanho de laranjas, o fluxo de um rio se forma nas ruas, o rugido da tempestade revoa como um pássaro gigante ao alto de nossas cabeças.

--...Fico até o mundo se acabar.

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