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Cronicas-->Tábua de Salvação -- 04/01/2015 - 23:02 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, quatro de janeiro de dois mil e quinze. Faz calor aqui, suo-me só de pensar e os excessos correm-se-me nas veias como partículas de um colesterol ruim, evidentemente invisíveis e não sinto nada, nada. Pensem o que quiserem, podem pensar, mas que essa vida tem suas fragilidades, ah tem. Estou aqui olhando o perfil básico desta cidade e vejo janelas e prédios à minha frente.
Somos obrigados a viver em caixotes, uns sobre os outros; mal conhecemos nossa vizinhança, isso é vero. Eu penso que a continuar assim, logo teremos de estender pontes de amizade entre nossos prédios, porque ninguém mais consegue andar nas ruas, tal a confusão instalada de carros e gente doida correndo atrás de menos saúde e mais dinheiro. Nestas pontes, erguidas entre nossos edifícios, bateremos à janela de nossas amizades e atenderão os acordados, ainda:
--Bom dia!
--...Dia...
--Você pode me emprestar uma porção de farinha de trigo?
--Tem noção das horas?
--Domingo, dia quatro, onze e trinta da manhã.
--Tudo isto? ó mana! Vê se acorda, tu não queria andar de bicicleta hoje?
Lá do fundo vem a voz abafada dizendo " Hoje não, cacete, ontem foi muito bom, quero é dormir"
--Ontem já é hoje! Levanta se puder essa barricada de peso! Ou preciso ajudar com um guindaste? Pois não moço, eu lhe dou uma porção de farinha de trigo. Mas, que mal lhe pergunte, vai fazer o quê?
--Tenho uma máquina de pão. Padaria é para os fortes. Antes de comprar o tal bisnagão, levam-lhe tudo, carteira, documentos, foto e até tua identidade; agora, na rua, saio sem ostentar. Tenho o kit-andrajo, muito útil nestes dias.
--Ah bom! Espere aqui que já lhe trago a tal farinha.
Dali onde estou, pendurado a dezoito metros de altura sobre a tábua comprida, posso ver uma sala caprichada, com mesa de tampo de vidro, vasos com orquídeas em flor, uma televisão grandona na parede e um tapete de corda bem maneiro. Lá vem a vizinha com a tal poeira dos deuses, a farinha. Bem-feitinha essa vizinha. Vou me lembrar depois de colocar a tábua mais vezes, deixa ver, terceira janela do décimo sexto, prédio amarelo canário, ao lado do prédio abandonado, acima do marrom-glacê.
Agradeço e vou bamboleando com minha farinha de trigo, vejam bem, e olho para o abismo. Lá, bem abaixo, na rua em que moro, está o tal velhinho que anda com um carrinho desses de madeira recolhendo tudo quanto é papelada, latas e plásticos para revender aos reis do reciclável que dominam as ruas ao lado dos reis do gatilho. Sobe de lá um cheiro de gato assado. Estes de animais sagrados viraram quitutes disputados e em breve, com sua extinção, seremos convidados a consumir outros quitutes de patas e pelos. Não, não não, definitivamente estou assustando vocês. Recolho então minha tábua retrátil, utilíssima nesta época, e volto ao meu quarto onde me espera a máquina de pão zumbindo impaciente. O gato me olha espantado e agradecido.
Bom dia a todos.
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