Não sei se deveria escrever isso, assim, de maneira tão pessoal. Não me levem a mal, é que digo o que penso, logo me vem das entranhas todo um estranhamento, uma dobradura de tempos; um torpor de palavras que penso serem inúteis e descabidas. Todo um tempo interno, então, se descortina e o que pensava ser apenas fútil pregação ou palavrório se converte em simples constatação do óbvio e inevitável desfecho de toda e qualquer conversa que se inicia por um lado e termina por outro, como começou: Um desfile de lugares-comuns, um disparate dito após outro, um velamento das verdades porque, mesmo em se olhando face a face ao outro que lhe faz o desafio, a mente se nos prega peças porque nos surpreendemos falando com alguém, pensando em outrem, num esvaziamento de qualquer diálogo tentado, pelo menos nesses tempos atuais.
Não é Ã toa que famílias inteiras fogem para dentro de aparelhos virtuais, emulando suas próprias existências efêmeras em avatares inalcançáveis.
Temo que eu próprio seja um síncrono de mim mesmo, uma espécie de miragem, tanto que me escrevo/descrevo como se eu mesmo fosse feito de uma espécie de escura matéria, que ninguém vê mas que se sabe que se sente.
Desculpem se lhos falo assim, de maneira tão pessoal; afinal, desabafos são mal interpretados em toda uma cultura que abençoa o bem-estar e as falsas esperanças. Em um caldo assim fermentado, tal atitude pode gerar uma repulsão, tanto que logo se desvia o olhar; não conseguimos mirar nem a nós mesmos ao espelho, quanto mais ao próximo e, pior, um tão distante próximo!
Como miragem que sou, desejo-lhes a suavidade da noite, que de escura luz se faz, e traz as estrelas e nos faz esquecer da miséria moral que se abate cada vez mais sobre nossa Nação antes grandiosa; como um espectro voraz, caminha em suas pernas de cambaia. E nossa visagem se confirma, se desmaia como as cores do crepúsculo. Esqueçamos disso.
Bobagem.