Chove lá fora. Água cai a càntaros. Baldes d`água, correntezas que escorrem das calhas, enchem o emaciado solo. Assovia o arenoso solo exausto, absorve a água setembrina; riachos que se juntam, perfeitos em aparência e conteúdo. Águas cristalinas, caídas sem tempo de parada, o solo pesado...túmido, túrgido, a mama de uma mulher que depende de seu leite para alimentar um bebê faminto. Gretas cortadas a faca na terra se avermelham, é o sangue da terra que fertiliza as caídas, escorre pelas ribanceiras, espalha as sementes dos dentes de leão. A chuva, a chuva me apetece, molha o meu corpo, ensopa-me a alma, o frio se estabelece, água pelos joelhos, cai torrencial feito uma catarata permanente. Nada que meus ossos não sintam nem que a perfeição dos olhos dela não captem numa cortina branca, suntuosa, de cristais sob o sol que se mistura à s nuvens. O sol, que se bandeia pro lado de lá, o sol nos cristais de gelo das nuvens que se adensam, a chuva, essa tão propalada chuva, ela me deita ao solo que grita, venha, venha e cubra meu corpo como uma deusa de amor, venha! E a água em massa de grandes pingos cai ritmada, em grandes sorvos, goles a serem bebidos, grandes monções que se espalham, ruídos na floresta que estende seus galhos à bênção, galhos/braços/folhas/nuvens, a força dos ventos que espalha poeira de polens nos perfumados ares da Primavera, essa que precisa de um respiro, essa, tão esquecida, a Primavera que nos ameaça, a primeira vez em muitas eras, a chuva, o sol, o tempo, as nuvens, os raios criando ocos de silêncio entre um e outro estrondo, os ares eletrizados, a chuva.