Há alguns anos, entrei numa estação de metró em Estocolmo, a tão civilizada capital da tão primeiro-mundista Suécia, e notei que havia entre muitas catracas comuns uma de passagem livre.
Questionei a vendedora de bilhetes o porquê daquela catraca permanentemente liberada, sem nenhum segurança por perto, e ela me explicou que era destinada à s pessoas que por qualquer motivo não tivessem dinheiro para a passagem.
Minha mente incrédula e cheia de jeitinhos brasileiros não conteve a pergunta óbvia (para nós!): e se a pessoa tiver dinheiro mas simplesmente quiser burlar a lei?
Aqueles olhos suecos e azuis se espremeram num sorriso de pureza constrangedora - Mas por que ela faria isso?, me perguntou.
Não lhe respondi. Comprei o bilhete, passei pela catraca e atrás de mim uma multidão que também havia pago por seus bilhetes.
A catraca livre continuava vazia, tão vazia quanto minha alma brasileira - e envergonhada.
* Narrado por Décio Tadeu Orlandi, bacharel em Letras pela USP e mestre em Literatura pela UFG. Recebido, nesta data, do Dr. Adriano Augusto da Costa Filho, meu amigo de muitos anos.
Quem faz um país é o povo!