Quando nasceu, não era belo, mas também tinha lá seus atrativos. Toda criança quando nasce traz consigo a esperança. Ele, porém, era um bebê quieto.
Evacuava direitinho, mamava no horário. Acordava num berreiro que se era estridente, pouco incomodava devido à sua brevidade.
Foi crescendo. O que não era belo de início não foi se delineando depois: Tinha olhos escuros e vivos, cabelos castanhos e como nunca pedia nada, pouco comia. Daí ser magrinho.
--Engraçado, não come nem pede!
Brincava sozinho, se bastava a si mesmo, via o mundo com maravilha, escutava o som do passaredo sem nenhuma surpresa, pois era a natureza que falava.
Foi se estabelecendo. Virou adolescente. As meninas não o olhavam, pois que era neutro, pequeno e amedrontado. Uma vez foi à zona. A puta o olhava, ele olhava a puta. Não saiu nada.
--Engraçado, ele não fode nem sai de cima!
Passou no vestibular, nem agradeceu os cumprimentos, foi trabalhando demais e acumulando riquezas. Conheceu uma moça desenxabida que combinava com ele, opaca e sem graça.
Casaram. Nem teve lua-de-mel. Foram à luta. Sempre trabalhando, abaixando a cabeça. Aí teve rebuliço, um dia tinha tanque na rua, gente correndo nas madrugadas, gente fugindo da morte.
Ele teve um treco dormindo. Morreu que nem passarinho.
No velório, sua mulher chorava baixinho. O filho deles olhava o pai tristonho e as bocas maldosas de sempre, à volta, diziam:
--Engraçado, não cheira nem fede!