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Cronicas-->Burocracia* -- 15/06/2016 - 12:41 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Burocracia*


Prezada fulana: para confirmar que o homem de bem encontra toda a espécie de dificuldade para abrir conta de poupança, narro este episódio:

1. Quando nasceram os meus dois primeiros netos (menina e menino), abri conta de poupança para eles. Como 1º titular, movimento-as (só para depósito) sem nenhum obstáculo. Naquela ocasião, março de 2005 e em outubro de 2006, não tive nenhuma dificuldade.

2. Com o nascimento do terceiro neto , quis fazer o mesmo. Não deu certo. Fui à minha agência (chamada estilo, não sei por quê. Ali depositam passa-fomes sem nenhum património e de salário comprometido). Não o podia fazer, porque isso é da alçada de agência de pequenas contas correntes.

3. O gerente, muito atencioso, tentou justificar a negativa. Preencheu uns formulários (procurou saber tudo da minha vida: quanto ganho, celular e nome da prestadora do serviço, telefones fixos, endereço do trabalho e residencial, quando me formei, data de admissão, tempo de empresa, e-mails, profissão, estado civil e nome da minha mulher).

3.1 Mesmo assim, exigiu comprovante de residência. Nisso perdi mais de duas horas, porque inclusive fui a casa buscar a dita conta de luz. Depois, quando não havia mais nada para exigir, disse:

─ Segunda-feira, quando o atendente tiver tudo pronto, liga para você vir assinar.

3.2 Acreditei. Hoje fui lá. Encontrei um burocrata pela frente, muralha de pedra intransponível. Ficou 15 minutos digitando o que não sei. Depois de tanto esperar, falou:

─ Agora, é só trazer a mãe dele para assinar.

4. Tentei argumentar que sou o avó e que a conta é somente para receber míseros centavos de poupança mensal. Nada o convenceu. Indicou uma NI que exige que o respónsável (mãe ou pai) assine.

5. Veja, querida. Sou correntista do Banco há quase 40 anos. Tenho aplicação (pequena, mas tenho). Segundo o banco, minha agência é a tal de estilo, coisa que não me envaidece nem alegra. Moro em Brasília, há mais de 50 anos e tenho passado limpo e honesto.

6. Bandidos da mais alta periculosidade abrem contas e mais contas, fraudam terceiros e mais... e sequer são presos.

7. Para continuar sendo honesto, o homem tem de ter muita vocação e paciência: a todo o instante, ele é atacado, desrespeitado e humilhado.

8. Estou pensando em escrever carta ao Banco Central e expor esse desacerto: não basta toda a história de vida, tem de obedecer a uma lei (se é que é lei) absurda, irracional e que prescreve arbitrariedade.

9. Agora, você pode entender como "amigos do alheio" abriram conta em seu nome. A eles tudo. Ao homem de bem, a lei severa e obsoleta aplicada por semianalfabetos disfarçados de ditadores, que, em parte, são pagos também pelo contribuinte.

10. Esse banco é economia mista, grande coisa: não consegue sobreviver sem o governo.

11. O que deveria ser motivo de contentamento termina com muita repulsa. O homem honesto não tem valor. Não faz mal. Continuarei meu caminho de paz.


Com a estima e o abraço do

Benedito


* Brasília, DF, 07/06/2013.

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