Vim pela estrada ora chão pisado, ora de asfalto, com um companheiro das horas boas e ruins. Sempre caminhando ao meu lado, apenas me fitando. Com seu olhar, Caçarola conversava respondendo apenas com a iris. No vocabulário, embora restrito, só havia doçura e compreensão. Na tristeza, seus olhos me abraçavam, na alegria, pulavam comigo, na fartura, partilhavam e na penúria, me confortavam enchendo-me de paz e esperança. Eu e ele olhávamos a Nação gente, e só víamos correria, gritos, brigas, e todos os tipos de cobrança. Menos compreensão. Comecei então a perceber, a ausência de compreensão, que é tão frequente no nosso diálogo (Caçarola e eu). Caçarola apenas fitava com o olhar de querer compreender o porquê das pessoas serem tão insatisfeitas, insaciáveis e irritadas se elas tinham todos os atributos, inclusive o da inteligência e racionalidade disponíveis ao próprio uso. Quando nos olhávamos, sempre estávamos em sintonia, como se eu tivesse a grandeza da alma canina e entendesse a linguagem das emoções, passivamente. Decidimos, só com o olhar que a estrada seria outra nossa melhor parceira que nos dava o chão de barro ou de asfalto, como um verdadeiro tapete vermelho. E assim continuamos caminhando no caminho da felicidade, vivendo e cantando: " Felicidade é uma cidade pequenina, uma casinha, uma colina..."