Parabéns. Muito bem escrita e criativa, de tal modo que nos prende à trama e nos convida a seguir na leitura com avidez para encontrar o desfecho da malograda interpretação lotérica do pobre do Felício (que continuou mais pobre do que nunca, depois de sua azáfama para receber o sonhado prêmio, infelizmente frustrado pela sua errónea combinação dos números).
E essa frustração é fatal, pois, como na vida real, o traz de volta, em poucos minutos, do paraíso da quimera riqueza à realidade da rotina que o torna infeliz.
Tanto é assim que o quixotesco Felício correu com o máximo vigor de suas frágeis pernas (imagino) para receber o sonhado prêmio que o libertaria dos panos e rodos diários.
Qual nada, volta, de cabeça baixa suponho, envergonhado e humilhado, motivo talvez de galhofa, a sofrer o rigor do dia-a-dia sem futuro, distante da opulência que por pouco não bateu a sua porta.
Os sonhos, portanto, são os grandes libertadores da alma. A pressa não é boa conselheira, por vezes, e a utopia não é nada mais que razão para encontrarmos forças para desafiar a vida e conquistar os sonhos impossíveis.
Pobre Felício, pobre de nós.
* Brasília, DF, 28/12/2007. Interpretação da crónica "Azáfama" pelo engenheiro Jorge Dantas Dias, meu colega de trabalho.