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Cronicas-->Rimbaud -- 22/02/2017 - 13:44 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O garoto maltrapilho, munido de seu spray já gasto, garatujava frase incompreensível na parede já suja de tantos ditirambos, versículos, passagens bíblicas e citações literárias do mais alto grau de cultura e humanidade. Ele o fazia escondido, pois desde que as Brigadas começaram a funcionar, o maior desafio era esse: Justamente pichar onde o simples ato de deixar marcas era uma questão de vida e morte. Morte para ele era pouco, já que a vida já não lhe valia de nada: Seu irmão morrera numa patrulha, os melhores amigos todos haviam desaparecido raptados pelos Moralistas e pelos Brigadistas. Uns outros que conhecidamente haviam se tornado criminosos ele os vira desaparecer um a um, na calada da noite escura e voraz.
Quem lhe acompanhava nessa temerária atividade era Chimbinha, algo parecido com um certo guitarrista que se separara de uma outra lá que se dizia mais uma de tantas outras; sei lá. Se esse Chimbinha sabia ou não tocar algo, devia ser um talento bem oculto, porque ele mal grunhia, quanto mais tocasse.
A escuridão os ocultava como um manto de segredos silenciosos. A noite de estrelas brilhantes ficava bem ali, à mão, a um erguer de olhos: Lá, bem acima, duas luas os fitavam, a nossa e a dos Outros. Os Outros haviam chegado numa noite tormentosa e somente observavam, sem nada fazer, a vida correr cá embaixo. Não falavam nada, não se mostravam, não respondiam a chamados e nem iniciavam quaisquer hostilidades. Estavam lá, ao lado da Lua, uma lua outra.
--ó Mané, vai devagar, cara! Frases curtas.
--Cala a boca, ó pastel. Deixa eu escrevinhar as frases aí, porra!
--Que letra é esta? Por acaso tu fêz medicina?
--Deveria. Ajudaria nas Pragas. Agora, já era.
--Tu ganha por serviço?
--Ganho por frase. Hoje colocarei uma de...
--Rimbaud.
--Rambó?
--É, esse mesmo.
--Escreve aí, porra.
" Dançam, dançam os paladinos,
Os magros paladinos do diabo,
Os esqueletos dos Saladinos."
Súbito, um rumor. Ratos correndo? Passos. Os passos ecoam nos muros grafitados e cheios de poemas. Eles se alarmam; os dois sentem eriçar os pelos da nuca. As Brigadas agem no escuro, à revelia. Ninguém lhes escapa, e se escaparem, vêm o Moralistas e acabam o serviço. Os dois correm. Chimbinha é o primeiro a cair, sem um ai. Nem tem tempo de expirar, o garoto ouve o silvar e uma explosão perto da mureta o faz saltar no escuro de uma altura de dois metros. Cai em pé feito um gato, sete vidas que tem, e sai em disparada. Ouve silvos que detonam aos seus pés, às costas, atingindo o cenário todo. Rimbaud que se dane, quero que se foda Rimbaud. Porra!
Cai num alçapão.
São os Moralistas.
Eles sim, sabem como fazer Rimbaud dançar.
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