vinha no jornal de hoje, quinta-feira, festa do Corpus Christi. Estava reunida e relaxada uma turma de jovens casais amigos, na faixa de trinta e tantos anos discutindo amenidades num dos bares de famoso clube da capital brasileira. Clube badalado junto ao Lago Norte, quando o Robertão da Rosa, retornava ao grupo, de jornal na mão, meio agitado e anunciando algo que não deu para entender na hora. Quando se sentou, questionado, Roberto explicou a razão de seu alvoroço. Estendeu o braço, apontou para uma manchete do jornal e disse: - leiam só. E acrescentou ainda: leiam com atenção esse negócio da grua. Grua? - respondeu a Rosa, sua mulher. O que é uma grua e o que é que isso tem a ver? Foi então que o William que era formado em engenharia mecànica pela Universidade de Brasília falou com pausa e gentileza: - Rosa, a palavra grua, - um termo que deriva do inglês "crane"- corresponde ao que no vocabulário corrente chamamos de "guindaste". -Ah, sim, claro, entendi, retornou Rosa. - Vou-te explicar melhor, disse William: grua é um equipamento pesado e muito utilizado na construção civil de maior envergadura apto a levantar e movimentar cargas e materiais pesados e colocá-los no lugar adequado da construção. A grua é fixada numa base pesada, tem um motor muito possante. Na sua configuração mecànica, tem duas extremidades: uma para elevar, levantar e fazer subir ou fazer descer materiais necessários à operação em curso e a outra constituída por um enorme contrapeso destinado a estabilizar o conjunto.- Satisfeita? -Satisfeita, disse Rosa. Então vamos ao resto, disse o Celso, o mais curioso da turma. - Roberto explica aí qual era o segredo do jornal sobre a grua... de que você falava. Ainda não entendi nada. Acedendo à pergunta do Celso, Roberto pegou de volta o jornal e disse: -Oh! Está aqui. Aqui, disse. Oh: ". E apontou para a página "Eixo Capital" estampada em letras garrafais e logo no alto, do lado esquerdo, em destaque, a coluna de Ana Maria Campos. Lá havia uma manchete: "Tribunal de Contas vai apontar responsáveis por prejuízo". Era isso. Adentrando o texto de Ana Maria, os amigos reunidos no bar do clube junto ao Lago iriam perceber de que prejuízo ela estava falando e especialmente o mistério da grua. Transformados em leitores, iriam entender e decodificar o título da minha própria crónica que ficou estampado lá no começo e que é: "O peso da grua e o clamor das turbas". Explicando por partes, o leitor vai terminar por entender que o prejuízo de que se trata aqui é o prejuízo relativo à s contas que estão sendo avaliadas pelo Tribunal de Contas do DF no que diz respeito à construção do Estádio Mané Garrincha, na capital Federal. O tribunal analisa várias irregularidades verificadas de junho de 2010 a julho de 2011 e já foi levantado um prejuízo de 67,7 milhões de reais. A auditoria aponta o nome dos vários gestores da obra neste período e vários erros. Entre os erros, e só para amostragem, está o caso da tal grua que virou o assunto desta crónica. E que importància tem uma grua num orçamento gigante como é o orçamento da construção do Estádio Mané Garrincha de Brasília? Tem muita importància, sim, caros leitores. A tal grua de que falamos se transforma em exemplo perfeito do que é a "planificação de uma roubalheira escondida num simples item", aparentemente secundário, no conjunto da obra. Vejam só. Ao analisar os prejuízos da obra, os técnicos do Tribunal de Contas do Distrito Federal, aplicando a lupa da análise, encontraram uma grua descomunal... que virou, para nós, cidadãos, a pedra de toque da corrupção... Corrupção...tão alta e tão pesada, que provoca por si mesma, "o clamor das turbas", o clamor das multidões, a revolta do povo, já tão escandalizado com a roubalheira que vai conhecendo através das inúmeras delações premiadas da Lavajato. O que os técnicos descobriram sobre essa grua ou esse tal guindaste utilizado nas obras do Mané Garrincha - "a arena mais cara da Copa de 2014", segundo a imprensa, foi literalmente isto, notem bem: "Ao apresentar as contas, a Novacap, falando de uma grua de 90 toneladas, atestou que pesava 96 mil toneladas, resultando de tudo isso, como diz Ana Maria Campos, num superfaturamento de #R 1,37 milhão só nesse item"... Pronto. Está tudo aqui...
Diante disto, resta-nos aguardar que o Raio X dos técnicos mostre outras coisas, ou seja, todos os detalhes da corrupção e que a lei brasileira possa provar, através do judiciário, no final do julgamento dos responsáveis pela roubalheira, que há no país uma força de punição justa...E provando ainda, consequentemente, que a prática do crime não compensa, em caso nenhum..., nem sequer quando apela para "gordurinhas de gruas perdidas nos altos ares dos canteiros de obras". O povo brasileiro clama revoltado. E tem que ser atendido, custe o que custar, para que a moral e a ética nunca deixem de ser o norte normativo da ação em nosso país, necessitado de uma retomada.