Vocês imaginavam talvez que eu houvesse sumido; que nada, estou pelas candongas da vida, andando para lá e para cá. Estive em São Francisco e na prisão de Alcatraz tinha um dia lá que Jake fazia questão de espicaçar o cozinheiro, que era Joe, condenado porque havia posto veneno na comida da mulher que tinha amante e ele ficou sabendo. Joe cozinhava bem, apesar dos antecedentes, a gente até que gostava do rango dele. Vez ou outra Joe dava de inventar umas iguarias danadas de boas, com pimenta jalapeña e outros quitutes que faziam o ar das celas se tornar irrespirável. Erguia-se um clamor e ele ria à s pampas:
--Peidem, animais! Peidem, que o ar está incendiário hoje! Peidem!!
Ninguém dormia no dia do festival, como chamávamos. Era cada um, risadas gerais depois de outro. Imaginem vocês que Jack, o negro louco, conseguia fazer com o rabo um solo rápido de Louis Armstrong. Entoávamos então What a Beautiful Day em meio à s gargalhadas e os guardas ensandecidos batiam com os cassetetes em nossas celas para parar a barulheira generalizada.
--Bando de animais celerados. Não tem jeito! Boa parte poderia ir aos quintos dos infernos ou para San Quentin, mas não, deixam esses bastardos aqui, comendo pimenta e peidando de noite!
--Ora, podia ser pior. Você gostaria de trabalhar em San Quentin?
--"Dead Man Walking!" Brrrr, só de pensar, me dá arrepios.
--Deixe o cu dos caras arder, eles até que gostam.
--Quem tem cu ainda tem medo. Amanhã de manhã vou botar uns na solitária.
--Quem?
--Os de sempre. Volte à sua ronda, não temos a noite inteira para fumar um destes...
--Dos bons, foi Capone que me deu, com recomendações à família.
A sinfonia durava até de madrugada. Eu juro, e ainda uma gaitinha nos acompanhava, tocando tristes canções de bandidos mortos. Eu pegava meu pente, olhava a pia, o teto baixo, as grades e sabia: Dali, só sairia morto.