Jó Formigão é um homem do povo muito conhecido nos arredores de Cafundó de Judas.
Quem acompanha de perto seu desempenho político dos últimos tempos é capaz de pór as mãos no fogo por ele.
Homem íntegro aos extremos. Nunca recebeu e nem deu propinas pra ninguém em nenhuma hipótese. Vê tal atitude, corriqueira no dia a dia dos políticos contemporàneos, como uma forma de se corromper e de corromper pessoas indefesas.
Na comunidade onde ele vive, todos os seus amigos e conhecidos o veem como um exemplo de pessoa, mas ele anda meio ressabiado com a possibilidade do surgimento de uma nova saraivada de delações premiadas.
Há fortes indícios que nas comunidades vizinhas, vivam alguns cidadãos, homens do povo, assim como ele, os quais, inadvertidamente, se envolveram com o recebimento de doações e favores de outrem e que em troca se propuseram a dar pequenas quantias a outras pessoas, também.
Ele tem medo que os estilhaços das falas desferidos pela boca dos eventuais réus que deporão na Operação Limpa Ligeiro, no afã de se livrarem de penas mais severas, contem o que não viram acontecer e acabem comprometendo os homens do povo de boa-fé, portadores de fichas limpas, até então.
- Ninguém está a salvo dessas pessoas mal intencionadas, que falam o que não viram acontecer e acabam atingindo almas indefesas, só para se livrarem de penas mais pesadas - falou ao padre da igreja local, com certa preocupação.
O padre, um homem de idade avançada e bastante ponderado, considerado real conhecedor das mazelas e sofrimento do seu povo, deu a seguinte orientação:
- Meu filho, não se aflija, por enquanto. Vá embora, reflita bastante acerca de tudo que conversamos, mas tenha a certeza que se a jornada é pesada e te cansas a caminhada, há sempre uma saída; segura na mão de Deus e vai, orando, jejuando, confiando e confessando... mas também tenha a certeza que só colhemos o que semeamos. Nem mais, nem menos - concluiu.