De manhã, pouco sol, raras pessoas na rua. O frio anunciando que se ia logo. Estava em minha caminhada diária. Por mim passa senhor mais ou menos da minha idade com cigarro nas mãos. Tragava de vez em quando. Cumprimento-o. Não responde. Penso:
"que pena! está estragado o exercício com esse veneno nas mãos." Entretanto, refleti e mudei o pensamento:
"talvez esse seja o único desejo que tenha na vida!"
Após alguns passos (uns 100 metros), ouço barulho. A calçada, de pedras hexagonais (muitas irregulares) não oferecia a mínima segurança para o desatento. Não deu outra: tropeça, cai e bate a cabeça numa delas, bem na quina saliente. Aproximo-me e sinto que ainda respira, com sangue na boca. Chamo o SAMU, que não demora. Após os procedimentos de costume, leva-o para o hospital mais próximo. Fui junto. Infelizmente, chega morto. Não aguardei o resultado do exame.
Enfim, supus:
"deve ter morrido fazendo o que gostava. Quiçá esse foi o seu último prazer, que, traiçoeiramente, lhe antecipou a partida."