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Cronicas-->Prata da casa -- 13/07/2001 - 01:53 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se eu fosse um cronista, valia um conto de réis...

Meu nome é Mário, sobrenome Chumbo. Não riam, é só pra não haver jurisprudência de apropriação indébita, vulgo furto.
Rapaz ainda, fui pedir emprego num jornal de grande circulação - O Costado do Seo Paulo - um periódico de tradicional família, que metia a boca no trombone, pero no mucho. Mas pagavam bem e eu precisava de uns trocados.
Vesti meu melhor terno e me apresentei no escritório do chefe da redação. A secretária - dona de um sorriso um tanto quanto - foi logo me avisando que o tempo médio de espera era de 57 minutos. Mandou-me ficar à vontade e eu fiquei contando as làminas da persiana do escritório.
Estava na quinquagésima-sexta, quando um cutucão me avisou: - Pode entrar, moço. O Dr. Irineu vai recebê-lo agora.
Pensei cá comigo: - Como um Irineu chegou a doutor? E de redação? É doutor em quê? Pensei tanta besteira, que daria uma crónica.
- Sente-se, rapaz - ele disse, com voz de dermatologista.
- Mas sento aonde? Não tem cadeira aqui! - protestei, com olhar de Pequeno Polegar.
- Dona Gertrudes, providencie um assento para o... o... Como é o seu nome mesmo? - perguntou com voz de general.
- Bond, James Bond - respondi sem pestanejar.
- Como?
- Isto é, Chumbo, Mário Chumbo - arrematei.
- Chumbo por parte de pai, ou de mãe?
- De pai - eu respondi, quase batendo continência.
- Muito bem, senhor Chumbo. O que quer fazer aqui conosco?
Diante dessa pergunta, eu vi a vida passar diante dos meus olhos, como num vídeo-tape.
- O senhor está bem? Entrou um cisco no seu olho? - ele perguntou, com voz de ginecologista.
- Não foi nada, só uma tontura passageira - respondi, com voz de office-boy.
- Então você quer escrever para o nosso jornal? - ele perguntou, com cara de laxante.
- Exato, eu quero um espaço no seu jornal - respondi sem titubear.
- O jornal não é meu, é do Dr. Paulo! - ele retorquiu, com feição de capataz.
- E como andam as costas dele? Ainda quentes? - falei de supetão.
- Como? - ele perguntou, com voz de sargento.
- Desculpe, foi só um trocadilho com o costado do seo...
- Gertudes, me traz um anti-ácido!
Ele tomou a água borbulhante borbulhando de raiva. Se não me mandou embora ainda, é porque a coisa anda mal por aqui. Vou perseverar.
- Mas, Dr. Pirineus, como andam as matérias?
- Irineu! - ele corrigiu, com voz de bedel.
- Irineu, perdão. Como anda a tiragem?
- Nada mal, contratamos talentos a peso de ouro!
- Eu peso 65, sem tênis.
- Como assim?
- Por nada.
Duas horas depois, eu estava tomando uma cerveja com o faxineiro da redação.
- Meu amigo - eu disse, com voz de Lair Ribeiro - um dia eu chego lá - e apontei para a antena no topo do prédio.
- Se quiser - respondeu o Irineu, que fazia a faxina noturna - meu tio é o eletricista daqui e pode te levar pra ver a antena e...
- Um brinde ao teu tio e ao teu xará, Irineu! - eu disse, erguendo a lata.
- Outro pro santo!
- Vida dura, meu amigo.
- Pois é, doutor, quem não se vira leva chumbo!
- Bond, James Bond! - eu respondi.
- Pedrão, mais duas, na minha conta! - e pediu com orgulho de mestre de obras.
Pedi licença e fui buscar uma lágrima na garoa que caía lá fora.






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