Em Pilar, meu pai, era comerciante da Loja Palmeira tecidos, localizada na singela rua Dr. José Júlio Cansanção número 29. As portas de madeira tinham várias trancas nas cores verde e amarelo com areia molhada na base para proteger os tecidos dos fogos e evitar incêndio.
Manguaba Lagoa Mãe da nossa gente, chorando a derrota de um Brasil em julho de 1974. Eu, curumim de calção e camisa gola mamãe, nada entendia sobre o choro dos velhos no girador de bolas tantas.
O céu cinzento, pois era inverno na porta e a natureza chorava com a nossa gente. A barbearia do Biu Negrinho com seus cientistas tipo bico doce, laranjeira, se viu misturada em Mafuá e tantos outros discutindo a próxima copa, além de xingar a mãe do juiz. Não entendi o choro dos antigos, pois era menino. Enquanto uns morriam, o futebol sacudia meu Pilar, a pular nas tardes noites de um inverno rigoroso. Era 1974, filho da Alegria de 1970. Pelé e Mané Garrincha estavam nas paredes frias sem reboco no beco das corujas. Gritavam:"Mané! Rogai por nós!" Era tarde e o time alemão campeão.
Meu irmão, no frio Brasil na saudade da mãe que foi ser cidadã alemã.
Esse Brasil de tantas cores e de tantas caras, de uma margem alimentada no caldo do sururu das Alagoas.
As bandeirinhas verde e amarela, a lenha verde chorando na fogueira de São João, a tristeza no coração e a esperança de mais quatro anos de um Brasil campeão de futebol, constituído de tantos Lulas nas peladas e no cinturão da ditadura.