Há tempos, o dr. Hermenegildo (40), casado, médico capaz e famoso no meio profissional, vinha tentando conquistar auxiliar doméstica, Zita, curvilínea e boa de serviços, a qual ajudava muito sua mulher, dona Simplória, nos trabalhos caseiros.
Nunca dava certo para concretizar as hipotéticas investidas à serviçal, que, ingênua, não as entendia e desejava apenas trabalhar e obter ganho honesto.
Uma tarde sua mulher saiu para ir ao "shopping". Certo de que ela demoraria, ficou todo eufórico... esta é a oportunidade! Não demoraria muito para pór em prática o plano arquitetado há tempos. Quando Zita passa perto com todo o privilégio que Deus lhe concedera, aproveitou para dizer o seguinte:
- De hoje você não passa!
Sucede, porém, que dona Simplória esquece o cartão de crédito em casa e volta para pegá-lo, já que precisaria dele para efetuar pagamentos.
Ao entrar, silêncio! Chama por Zita, chama por Hermenegildo (a quem chamava de Gildo), e nada! Percorre todo o apartamento e encontra a auxiliar chorando copiosamente em seu quartinho, humilde mas limpo, com TV, e bem conservado.
Ambas tinham bastante afinidade (uma por ser patroa amiga e atenciosa; a outra, por ser correta, trabalhadora e eficiente). Dona Simplória pergunta:
- Por que chora assim? que houve? algum parente faleceu? fala para mim o que ocorre.
Zita, com toda a sinceridade (e pura!) disse:
- O Dr. Hermenegildo assegurou que eu não passo de hoje. Então, ficarei agradecida se a senhora puder me ceder roupa moderna e botas, dar um trato nos meus cabelos, pintar as unhas: essas coisas a que nunca tive direito. Quero ser enterrada bem bonita.
A patroa fica enfurecida e diz-lhe:
- Isso é brincadeira... vou falar com ele!
Procura-o e encontra já saindo para o serviço.
- Gildo, que história é essa de a Zita não passar de hoje? A menina está chorando no seu quarto. Como lhe faz uma afirmação dessa gravidade?
- Eu nem a via hoje. Dá licença, que já estou indo. Há pacientes que me aguardam no consultório.
Finalmente, dos três (Hermenegildo, Simplória e Zita) tão só o primeiro saiu-se bem e continua de olho na secretária. Pensa que algum dia vai concretizar o que pretende, isto é: se Simplória não desconfiar e ele tiver paciência.
Rotina: dona Simplória continua amiga de Zita, e esta - inocente e prestativa - faz o seu trabalho diário.