Por que é que eu fui comprar aquela playboy do mês de julho?
"Preciso ter uma conversa com você..." Dizia ela, não obstante ao fato do cateterismo ainda não realizado e recém anunciado, pelo batimento cardíaco, e pelo entupimento das vias arteriais. Não se pode anunciar uma conversa, que quase sempre, resulta-se num pequeno contratempo, e resolve-se facilmente em questão de minutos, com um prefácio deste porte. Mas é quase sempre assim, que as primeiras damas do matrimónio resolvem as suas questões de tal maneira.
Precisamos conversar, ou tenho que falar com você, tanto faz, qualquer uma das exclamações, são capazes de causar um rebuliço na cabeça de qualquer um. Se o caso, um adúltero tem em frente uma questão desta, ele se entrega, deixando o ouro e o verde todo à mostra, para apreciação do sexo oposto. Se outro caso, seja um fiel companheiro, mas com pequeninas omissões, para não dizermos mentiras inocentes, também corre o risco de ter sua saúde afetada de acordo com o conteúdo inicial da conversa. Tanto fosse, um santo ou um diabo, o homem sofre psicologicamente com o prefácio preferido do outro sexo.
Bastou que chegássemos em casa, e termos de ouvir que escutar muito mais do que já ouvimos durante todo o dia. Talvez, devesse ser obrigatório um curso de introdução à psicanálise, durante os anos de segundo grau. Um curso para entendermos as mulheres, seria o bastante. "Senhor presidente! Hein? Que tal?". "Povo brasileiro, é mais fácil erradicar a seca do nordeste, ou alfabetizar todos os brasileiros analfabetos do país, ou mesmo, acabar com a mão de obra infantil, em terras interioranas".
Bom, em todo caso, pra entender as mulheres, deve-se primeiro negar até a morte. Isso mesmo. Antes de qualquer coisa, ou indicação de conteúdo na conversa, deve-se estar preparado pra mentir a qualquer custo, e que à s vezes, não é nem mesmo necessário. Mas como estar preparado, com a mentira ao pé da letra, e na ponta da língua, sem ao menos saber o conteúdo da conversa? Você imagina: "Será que ela me descobriu? - Será que ela está grávida? - Será que vou tomar um fora? - Será que bebi demais ontem à noite? - Será que falei demais, e o que não devia?". Pois, qualquer dessas alternativas, martelarão na cabeça do pobre indivíduo e destituirão-lhe de sua sanidade.
Até que a formosa primeira dama de seu coração recém cateterizado, formalizasse suas verdadeiras intenções, enquanto o pobre safenado, já estaria devidamente cauterizado e costurado de inúmeras dúvidas, e crises de consciência. "Por que é que eu fui comprar aquela playboy do mês de julho?".
Não tardaria a descobrir que na verdade, era uma crise, tipicamente feminina e logo passaria, com o decorrer do dia. Aquela sensação de alívio imediato, não apagaria jamais a memória de que dali a alguns dias, tudo aquilo voltaria personificado numa crise de vinte oito em vinte oito dias. Pois, lembrem-se bem, nobres leitores cateterizados, de que se algum dia - qualquer dia - de vinte em vinte oito dias, suas mulheres iniciarem uma conversa do tipo assim, preciso te falar uma coisa? Não se preocupem, nem se desesperem, pois, dali a pouco a calmaria.
Mas se algum dia, vinte e oito dias depois, escutarem novamente a ladainha de que é preciso mais uma conversa séria, lembrem-se de quantas conversas sérias precisamos para chegarmos ao consenso. Aliás, é mais fácil acertar pedra na lua, erradicar a seca do nordeste, ou alfabetizar os analfabetos, e ainda assim colocar todas crianças na escola. Pois, de fato, é preciso entender as mulheres e seus disfarces momentàneos e esporádicos, dia sim, e vinte e oito dias não.