Eu sou dos que trazem muita alegria ao grupo, sempre procurando narrar casos engraçados ou fatos agradáveis, para elevar o moral da turma, pois a tendência é de se manter certo ar preocupado, tendo em vista as responsabilidades que se assumem. Como os compromissos são tidos em alta conta, não é incomum toparmos com colegas a soluçar pelos cantos, como se estivessem prestes a desistir de tudo. São lágrimas que jorram.
Eu mesma estive a pique de abandonar a Escolinha de Evangelização, pois me considerava tremendamente endividada, em relação aos familiares e a alguns companheiros. Mas, como aqui as vibrações íntimas são pressentidas por alguns grupos treinados para a percepção dos problemas mais graves, logo advém o socorro oportuno, como no meu caso, em que fui assistida com ternura por grupo de amigos pertencentes à equipe.
Estava desesperada? Não tanto. Apenas queria desvencilhar-me mais rapidamente dos laços que me faziam dependente de outros seres, alguns bem malévolos. Mas não pude realizar o objetivo, pois só iria complicar as coisas, já que não me preparara convenientemente, podendo, inclusive, causar sérias perturbações, tornando-me mais obsessora do que protetora.
Não me parece que o relato traga qualquer complicação quanto ao entendimento, porém, para tornar tudo bem claro, devo dizer que nem sempre a melhor das intenções produz o melhor resultado. Não basta o sentido do arrependimento, nem o sofrimento do remorso; é preciso bem compreender as dores alheias e toda a conjuntura das circunstàncias, para podermos oferecer a assistência que nos caberá, como norma geral do socorrismo fraterno.
Não fiquem os amigos assustados com estes dizeres, pois poderá parecer tudo muito complicado, já que é costume dos encarnados tentarem proceder emergencialmente, colocando só panos quentes. Para nós, os tratamentos devem ser exaustivos e completos. Se houver alguma úlcera, não deverá o tecido atingido demonstrar indício da doença. Buscamos comparação bastante específica, para evidenciar o quanto deveremos modificar a personalidade, no sentido do aperfeiçoamento, para alcançar sucesso junto à s demais criaturas.
Se alguém não estava assustado, depois das explicações deve ter ficado apavorado. Não é esse o objetivo; portanto, muita calma, ponderação e paciência, pois, da tranquilidade adquirida da confiança em que Deus é pai de misericórdia, é que brotarão os pensamentos que fundamentarão as ações evangélicas.
Falamos muito sobre a necessidade do conhecimento das leis cármicas, para a segurança do aprendizado da doutrina espírita. Se é bem verdade que uma encarnação só não oferece todos os recursos, também não se pode negar que, se fizermos o máximo em cada uma, reduziremos o tempo nesta esfera de expiações, podendo ocorrer de abreviarmos a estadia de alguns milênios.
Falar-se de milênios para quem tem a perspectiva de uns poucos anos talvez venha a perturbar ainda mais os já atormentados leitores, mas o oferecimento de novas oportunidades está consignado nas diretrizes universais, de modo que é bênção de esperança para realizarmos tudo da melhor maneira possível, aguardando atribuições complementares, para futuros encarnes. Não tem lógica o que estamos expondo?
Eis que se justificam algumas lágrimas, pois devemos reconhecer-nos bem pequeninos. Ao contrário do que se possa supor, mesmo os amigos que vieram propor totais alegrias, pois a felicidade é certa, são unànimes em reconhecer a existência da dor e a expectativa das frustrações parciais, já que nem tudo nos cairá do céu diretamente nas mãos. Todos deverão conquistar os direitos ao progresso e isso é trabalhoso, penoso, contingente e, Ã s vezes, assustador. Choremos, pois, dando vazão aos sentimentos, mas estejamos atentos para a próxima parada do bonde do destino, porque pode ocorrer que a estação seja de muita festa.
Eu mesma, quando estava naquela desagradável condição de muito desapontamento, chorava e já me arrependia de estar tão triste, pois me lembrava das exortações à alegria. Aí me recordei de outros momentos infelizes que se entremearam de profundas e puras emoções de amor, de fraternidade, de compreensão, na suprema ventura de existir, e dei aos socorristas condições de me energizarem, revitalizando-me os centros nervosos positivamente.
Caso os amigos estejam passando por fase semelhante, lembrem-se deste modesto comunicado e façam de tudo para transportarem-se para momento não muito distante no futuro, porque a visão das coisas estará possibilitando a perspectiva de se sentirem no auge da desesperação. Quem sabe até possam sorrir de si mesmos, numa configuração mais real do que somos perante o Cosmos: filhos do Pai Celestial.
Perdoem-me tão simples palavras, desmerecedoras de estar entre as mensagens tão importantes dos amigos. Mas creio que a mesma esperança que obtive deva ser o principal para a consolação dos que se encontram tristes pela perda de alguém ou de algum bem valioso. Nada na vida é eterno; mas tudo que é transitório é aperfeiçoável. Façamos o máximo para obtermos o melhor para todos, que estaremos protegendo-nos, eficazmente, das dores e frustrações das perdas, pois criaremos a convicção de que tudo, um dia, nos sorrirá ao redor.
Fiz de propósito redigir com extrema seriedade, não dando a ninguém o direito sequer de desconfiar de que as palavras não estejam baseadas no mais profundo apego pela verdade, e também para que a declaração inicial de que sou dos que mais brincadeiras fazem não pudesse pesar nas conclusões que os amigos fatalmente realizarão. Não é bem verdade que os que mais brincam são os que melhor escondem os dramas íntimos? Pensem nisso.