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Cronicas-->Avenidas Por Acaso -- 21/03/2000 - 16:19 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se ela passa é por pura comodidade. Se eu passo é por coincidência. E assim atravessamos a vida. Ontem, foi daqui há pouco. Eu ainda tinha medo de elevador - me lembro.
Tinha medo de perder coisas que não tinha e gostava de uma aparente calma e uma tenaz tranquilidade. Mas tudo ficou no querer. De repente, desbotou o sol e surgiu o vento açoite e a noite acabrunhada. Pulei de quarto em quarto. Escorri pelos corrimões da casa. Me guardei com a ama-de-leite, mas foi tudo em vão: tudo desabou de repente. Cóz e agulhas me espetavam e coalhavam um medo que só dá nos homens. Já pulei corda, e verdade, mas com segundas intenções. Aliás, as minhas jamais foram boas. Corri de boate em boate a procura de pelo menos uma parecida. Que nada! Deus esconde! Mas fui atraz e quase me perdi entre um vão e outro. Há poucas saídas quando se procura uma. Em Tijuana tomei tequila e, em Vegas, fui pedinte e operário de pratos. Tudo a procura de alguma coisa que tinha se perdido. Um elo partido que ficou do outro lado do mundo e eu não sabia sequer o caminho. Tomei vinho com prostitutas. Me perdi em noitadas da paulista onde pouco se dorme se você quer se vender. Pulei de mundo em mundo e cada um me parecia mais vazio. Que me importava aquela coalhada de gente em rebuliço de copos e luzes. Eu queria absortos e não sabia que havia não só me perdido como a todos que me cercavam. Então, em Marisco, tomei um ónibus e parti com desconhecidos. Conheci a escravidão. No entanto, hoje ainda, atravesso a rua por coincidência e ela cruza as avenidas por puro acaso.



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