O SONHO QUE TODOS GOSTARIAM DE SONHAR
Renato Ferraz
Quem morre não volta para contar
como foi a sua passagem para o lado de lá
Nem como está sendo a sua experiência pós vida.
Nada se sabe sobre o local, os costumes, nem da partida
Outro dia alguém contou que teve um sonho importante
Desenvolvia-se no céu e ele achou superinteressante.
Era um gramado bem verde com um teto azul celeste
Saramago foi quem primeiro apareceu, à oeste
Caminhava lentamente e foi reconhecido
Carrancudo, tinha nas mãos um livro ainda não lido
No bolso da camisa uma folha de papel
com rabiscos de escritos e desenhos do céu
Um grupo de estudantes se aproximou e a ele perguntou
O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, o que Jesus achou?
Saramago respondeu: nada disse ainda. No exacto momento ele falará.
Eu e ele temos muito o que conversar
Mais â frente sentado estava Drumond de Andrade
Creia quem quiser, estava sorridente e com cara de felicidade
Á sua frente uma pilha de livros, ele os abria e folheava
Depois um a um em cima do outro, ele os guardava.
Resmungava baixinho, “no meio do caminho, entre o céu e a terra, há o pecado. Há o pecado, no meio do caminho, entre o céu e a terra. Há o pecado!”
Era o seu primeiro poema feito no céu.
Quem vinha no sentido contrário a Saramago era Fernando Pessoa, que passou apressado, o cumprimentou e seguiu à passos largos.
Ia se disfarçar de Alberto Caeiro e depois este em Álvaro de Campos que por último acordaria Ricardo Reis. Todos tinham agenda lotada
Fernando Pessoa havia relido o novo poema de Alberto Caeiro: CONTRADIÇÃO
“O homem é um ser contraditório
É tão contraditório
Que faz uso da ciência para o bem e para o mal também”
Quem ouvia música e recitava um poema novo para Matilde, era Pablo Neruda: Ó Matilde amada, te amo porque te amo. Se não te amasse como te amo, o amor não seria amor. Te amo porque te amo...O amor só é amor porque sempre foi amor.
Um pequeno grupo mais distante tocava violão
Alguém conhecido por todos, tocava e cantava:
Tarde no céu:
Uma roupa simples para usar
O dia inteiro para descansar
Um céu que nunca vai acabar
E uma grama macia para se deitar.
Era Vinícius de Morais repassando a sua nova composição...
|