--- Meu amigo Anacleto! E aí, como vão as coisas?
--- Desculpe, mas... eu te conheço?
--- Tá lembrado de mim não? É o Manel. Pó, já faz mais de quinze anos, mas eu ainda não me esqueçi de você...
--- O senhor deve estar engan...
--- Mas fala aí? Como vai a Martinha, hein? E as crianças, já devem ter crescido um bucado não? Rapaz, quanto tempo...
--- Senhor, eu tó com um pouco de pressa.
--- Que isso... Não tem mais tempo pros amigos? A última vez que te vi foi quando a Laurinha nasceu lembra? Nós fomos lá te visitar. Cara, você tava melhorzinho naquela época... Mais cabelo, menos barriga... Quê que houve?
--- Meu senhor, por favor, eu preciso trabalhar...
--- Ah, deixa disso. Pros amigos sempre tem um tempinho. Tó te estranhando, você não era disso. Nunca negou um bom papo.
--- Você tá me confundindo...
--- Mas será possível, ainda não lembrou de mim? Tá esquecendo assim dos amigos? Que consideração hein?
--- Olha aqui, eu tó perdendo a paciência. O senhor saia do meu caminho que eu presciso ir trabalhar...
--- Qual é Ancleto? Te fiz alguma coisa? Agora quem tá perdendo a paciência sou eu...
--- Eu não sou nenhum Anacleto. Meu nome é Jorge...
--- Se não quer falar comigo é só dizer, não precisa disso não tá bom?
--- Olha aqui, você sai do meu caminho. Não aguento mais essa sua ladainha.
--- Olha aqui você: só porque você não se considera mais meu amigo não quer dizer que você pode falar comigo assim. Eu te quebro a cara.
--- Cara, eu vó chamar a polícia...
--- Chama que eu te arrebento a fuça...
--- Por favor, eu só quero ir embora...
--- Vai, e nunca mais olha na minha cara. Vê se isso é jeito de tratar um amigo.
E nunca mais se viram.