Distraidamente, distraído
Aroldo Arão de Medeiros
Para contar todas as peripécias, amores e desamores do Sargento de Milícias Martinho José Ferreira seriam necessários muitos livros. Seriam folhas não lidas, mas degustadas como se fossem gostosos bombons. Se estivéssemos lendo na cama, o sono tardaria a chegar. Se estivéssemos no avião, a viagem se tornaria muito, muito rápida. Já o autor de A rainha da bateria proferiria: “De avião é daqui pra ali, pela estrada é de lá pra cá”.
Se eu moro no sertão e me mudo para a cidade eu tenho que me adaptar. Não esqueço minhas raízes, mas sem querer modifico o meu modo de vestir, meu sotaque, minhas diversões. Tudo muda na minha vida, pois tudo à minha volta é diferente. O Sargento vira sambista. O compositor do Boca do Mato vira dono de botequim. Pensando alto ele fala: “Deixei meu lugar para me cariocar”. Ele, nessa carioquice conquistou muitos amores. Todos lhe deram prazer e carinho. Morou com elas e dentro delas. Acredito que ele está enganado quando diz: “Dentro de alguém ninguém mora”.
Quando há um amor verdadeiro a gente não paga aluguel. Mora dentro dela e ela dentro da gente. Não pagamos aluguel quando amamos e somos correspondidos. Quando ela tem outro amor, não nos vê. Coitados de nós. Não há dinheiro que a compre, por isso, no ritmo do samba, cantemos: “Dinheiro, pra que dinheiro? Se ela não me dá bola”.
Ela passa, toda cheia de graça, rebolando e insinuando toda a sensualidade. Linda e com um olhar sorrateiro, dizendo para si: “Não sou para o seu bico” e então eu e o homem que veio dos arredores de Cantagalo e Teresópolis ficamos falando sozinho: “Distraidamente distraído”.
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