Prole grande
Aroldo Arão de Medeiros
Seu nome esqueci com o tempo, porém não esqueço os causos contados em volta de uma mesa de dominó.
Num passado beeeemmm distante, ele foi caminhoneiro nordestino. Nasceu na pequena cidade de Boa Ventura, na Paraíba. Por coincidência, um dos significados de ventura é destino, ou seja, teve enquanto pôde se locomover bem, bons destinos. Outros significados de ventura são: “o que está por acontecer”, “boa sorte” e “bom destino”.
Nas aventuras proporcionadas pela profissão conheceu vários países da América do Sul. Numa dessas viagens subiu, de caminhão, é óbvio, o Valle Nevado. Uma ascensão de mais de 3 mil metros e com cerca de 60 curvas, não foi nada fácil. Tem que ter boa resistência, tanto pessoal quanto da carreta.
Certa vez deu um tempo no caminhão e dirigiu ônibus de excursão. Uma das que mais tem recordação foi quando empreendeu viagem de Tubarão até Cidade Del Leste no Paraguai. Nunca havia realizado tal proeza. Na ida foi tudo maravilha, no retorno, passando pelo primeiro posto de fiscalização da fazenda, os muambeiros fecharam as cortinas e rezaram em uníssono e com muita fé o Pai Nosso. Deu certo e todos agradeceram cada um do seu jeito.
No segundo posto fiscal, a fé não foi a esperada pelo ser supremo e o ônibus foi inspecionado e aqueles que haviam ultrapassado a cota permitida, perderam suas compras.
Gosto muito de ouvir as histórias que ele conta usando o paraibês.
Contou que certa vez estava em São Paulo num ponto de ônibus e, como esse mundo é pequeno, apareceu um caminhoneiro amigo, deu-lhe um efusivo abraço e perguntou:
- O que estais fazendo aqui.
Ele para “mangar” do amigo não perdeu tempo e respondeu de supetão:
- Estou esperando o metrô passar por aqui para ir ao Grajaú.
O “infeliz da costela oca”, sem graça, e espumando, chamou-o de “filho do cabrunco” e “pegou o beco”.
Hoje, coitado, a idade avançada chegou. Para ir jogar dominó, alguém tem que levá-lo e buscá-lo. Não mais se desloca sozinho. Falei hoje porém, os que o levavam e buscavam provavelmente cansaram, e ele nunca mais apareceu. Parece que foi tal qual o filme “Esqueceram de mim”.
Logo, logo buscá-lo-ei para que ele conte outros causos. Ele jogará conosco e perderá como sempre. A não ser que com sorte, companheira do nome da cidade natal, “lave a égua” e nesse dia quero ser seu parceiro na mesa de jogatina.
Até agora não expliquei porque nominei a crônica como Prole grande. Digamos que o outrora “aprumado”, “marueiro” não perdeu tempo quando estava em casa. Teve 13 filhos, 8 homens e 5 mulheres. Todos com gosto variado para música. Havia os que gostavam de sertaneja (maioria), popular e uns poucos que apreciavam músicas estrangeiras.
Vamos acreditar, pois pelo que se sabe é pescador que mente e não caminhoneiro.
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