PARTE DA MINHA INFÂNCIA
Renato Ferraz
Nos anos 60, Pedra era uma pequena cidade no sertão alagoano, que se desenvolvia e representava o progresso do momento
Com a decisão de fundar uma fábrica de linhas e investir na região, o empresário cearense
Delmiro Augusto da Cruz Gouveia trouxe o progresso e prosperidade para um local tão carente de tudo.
Havia um trem maria-fumaça que passava pela cidade 3 vezes por semana. Seu trajeto era Petrolândia-Pedra-Jatobá e vice-versa.
Onde parava, realizava a troca de passageiros e o descarregamento das mercadorias e animais.
O trem, além de muito útil para o desenvolvimento da região, era algo que chamava a atenção e mexia com a rotina da população.
Tanta animação assim, ver o trem durante a sua chegada, era motivo de festa.
De repente lá vinha ele enfileirado com seus 8 vagões. Era emocionante ver aquela máquina apitar e deixar sair o som
café-com-pão-bolacha-não, café-com-pão-bolacha-não! Lenha-na-máquina-pé-na-estrada.
Se o trem fosse gente, seria um fanático por comida, pois andava lotado de alimentos, mas parecia faminto.
Suas entonações só lembravam comida regional.
pão-com-manteiga-café-com-leite, pão-com-manteiga-café-com-leite
Perto do almoço, mudava o cardápio, feijão-com-arroz-bife-com-molho, feijão-com-arroz-bife-com-molho
Todos paravam o que estivesse fazendo, inclusive as crianças, como eu, suspendia a brincadeira e ia olhar o trem passar.
Meu avô morava em Petrolândia e quase todas as vezes vinha no trem,
descia ali em Pedra e comercializava suas mercadorias.
Tinha vezes que seguia para Piranhas e ia realizar o mucambo naquela cidade.
O trem era motivo de alegria em dobro para mim, mesma emoção que mexia com todos e por trazer meu avô para me ver.
Eu viajei de trem várias vezes com meu avô para passar férias em sua casa, com minha avó e meus tios, lá em Petrolândia.
Teve uma época que eu acreditava que o trem era de meu avô, um me lembrava o outro.
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