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      Lenda da Piripirioca 
Aroldo Arão de Medeiros 
     A tribo Manaó vivia na brenha, lugar fascinante da floresta amazônica. A tribo era conhecida por ter somente cunhãs-porangas. Certo dia um índio estranho pescava no lago próximo à tribo. Era Piripari, apanhando jaraquis. 
     Quando o bando de cunhãs da tribo Manau o avistou, elas arrudearam-se dele para tentar conhecê-lo melhor. Uma delas falou: 
     - De que terra vens, ó caboco bonito? Tu és lindo feito a manhã. 
     Piripari não as olhou, mas uma das índias, enxerida, botou a mão no ombro dele. Mal a mão tocou o moço, ficou toda perfumada. As cunhãs ficaram maravilhadas. 
     - Moço, conta para nós qual é o teu segredo. Se não contares, o levaremos preso para nossa oca. 
     Mas, ele apenas gritou, aperreado: 
     - Meu nome é Piripari!  
     Ao gritar, ele pulou avexado no rio, e na linha de pescar levava três mulheres jovenhs. 
     As outras moças, arriadas, pediam para ele se não pegar o beco. 
     - Piripari, não vás, somos amigas e te queremos bem. 
     Elas esperaram por muito tempo que ele voltasse. Sentaram-se na praia e aguardaram longamente pelo moço. 
     No entanto, Piripari não retornou. Apenas o seu cheiro ficara no vento, um aroma embriagador que envolvia toda a floresta. 
     Na baixa-da-égua, Piripari libertou as moças presas à linha de pesca. Ele disse a elas: 
     - Não queiram pensar no meu amor. Ainda não é meu tempo de amar, não me esperem mais, cunhatains manauaras. 
     Apaixonadas, as cunhatãs permaneceram inconsoláveis na espera. 
     Depois de muito tempo, vendo a capionga das cunjãs, apareceu na tribo um jovem feiticeiro chamado Supi. Querendo ajudar as moças, ele disse: 
     - Se o cabelo de vocês tocar Piripari, ele ficará preso. Quando a lua cheia vier, vão até a praia onde ele costuma estar e cada uma leve na mão um fio de cabelo para amarrá-lo. 
     No dia marcado, as moças bonitas foram para o rio. Elas viram Supi pescando. Supi puxou a linha e tirou um peixe. Ele enterrou o peixe na areia. A lua subia bem alto. Elas notaram que o peixe virava Piripari. 
     As mulheres jovens e mestiças, só pastorando, com os fios de seus cabelos amarraram Piripari. Elas vibravam de contentes. 
     Enquanto elas o amarravam, ele olhava para o céu e cantava uma linda cantiga, mas não se mexia. Elas então se queixaram a Supi: 
     - Nós o prendemos, mas ele nem se deu conta! 
     O feiticeiro tratou de tranquilizá-las: 
     - Enquanto ele está cantando a alma dele passeia pelo céu, entre as estrelas. Não toquem no corpo dele, deixem ele ficar no canto, do contrário ele desperta e a alma ficará no céu. Logo que ele despertar, podem levá-lo para casa. 
     No entanto, Piripari demorava a acordar. As meninas, perderam a paciência e clamaram: 
     - Bora, acorda, Piripari. 
     Puraê, uma das garotas, chegou a tocar no ombro num gesto muito impaciente. 
     Nesse momento, Piripari se calou e a lua se tornou escura. Soprou forte um vento frio e as cunhãs caíram em sono profundo. 
     Quando as bem-apessoadas cunhãs acordaram, no mesmo local onde haviam deixado o corpo de Piripari havia uma pequena planta, uma plantinha apenas, mas de um perfume de respeite! 
     Supi se aproximou: 
     - Me escutem, cunhanhãs manauenses. Quem quiser cheiro de encanto, use no banho esta planta que desde hoje passará a se chamar piripirioca, a planta que nasceu de piripiri. 
     E Puraê, a cunhã mais cabrunquenta, de castigo, caiu nos braços de um sapo cururu gigante. 
     As outras mulheres, bem tristonhas, voltaram para as suas casas. Nunca mais Piripari foi visto à beira do rio, nem o escutaram cantar uma cantiga. Até hoje as sinceras da Amazônia usam a planta cheirosa para conquistar os moços. 
  
  
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