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Cronicas-->O tempo e a Pedrinha -- 16/01/2024 - 14:36 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

     O tempo e a Pedrinha: 

Aroldo Arão de Medeiros

     Na última crônica que escrevi, pedi aos leitores para me fornecerem personagens e eu tentaria desenvolver um enredo. Fui agraciado por uma professora que me indicou “pedrinha”. A princípio aquele que está lendo essa crônica deve estar pensando, como discorrerá sobre algo tão estranho como o diminutivo de pedra? Coloquei o que ela me doou, em letras minúsculas, diferente do título, para confundir.

A personagem tem o nome de Pedra, mas sempre detestou o prenome, apresentando-se para todos que a conhecia com a alcunha que ela mesma inventou: Pedrinha. Essa mulher namorou cedo, logo casou e a vida só teve um enamorado, o felizardo marido. Pedrinha teve oito filhos, quatro meninos e quatro meninas.

Extrovertida ao extremo, comumente disparava umas tiradas excepcionais. Ela apregoava que todo homem tinha direito a sete mulheres e meia. Quando interrogada: para quê meia mulher? Pedrinha tinha sempre a mesma resposta debochada: para servir de troco. Com certeza, o marido tinha direito somente a ela.

No tempo da Jovem Guarda, surgiram as minissaias e Pedrinha garantia que, se por acaso ela fosse homem, passaria a mão naquelas “oferecidas”.

Nos carnavais, a casa dela se transformava em um hotel familiar. Vinham sobrinhos e sobrinhas de Imbituba, de Tubarão e, até, de São Paulo. Não faltavam agregados que chegavam a tiracolo dos convidados e eram recebidos com a mesma cortesia e a mesma atenção.

Ela apreciava sobremaneira sentar-se na cama e perder várias horas contando causos. Os expectadores? Os filhos e quem mais quisesse ouvi-la. E, amiúde, reunia muitos interessados.

Certa vez ela estava se apresentando com um grupo da terceira idade no palco, ao lado da igreja e algo inesperado aconteceu. Os componentes, homens e mulheres, vestidos para a ocasião, dançavam ao som da música Pintinho Amarelinho. Eis que a saia caiu e ela sem perceber o ocorrido continuou dançando. Só que ninguém a acompanhava. Pois todos caíram na gargalhada e ela nem aí. Depois, quando percebeu, levantou a saia, segurou-a firme com as mãos e saiu rodopiando ao som da música festiva.

Na comunidade, dava palestras para o Grupo de Jovens. Temas variados. Uma jovem frequentadora da época lembra-se de uma delas, cujo tema foi um debate sobre a música “Sentado à beira do caminho” de Roberto e Erasmo Carlos.

Dava a impressão que essa mulher tinha estudo ou, como se dizia antigamente, era formada. Ledo engano! Cursou apenas até o terceiro ano primário. É a partir dessa informação que o tema principal, Pedrinha, se desenvolve. Ela e o marido, embora já tivessem passado de meio século de idade, pretendiam se instruir para terem uma vida mais interessante. O cônjuge, homem sisudo, responsável pelo sustento da família, queria se formar no ginásio. Convenceu Pedrinha a acompanhá-lo. Uma das professoras foi a própria filha. O marido, sempre compenetrado, prestava muita atenção nas aulas, tirava as melhores notas, era o mais exemplar dos alunos. Já Pedrinha era outra história. Fazia bagunça o tempo todo.

Ela não queria estudar, foi lá convencida pelo marido, mas sua intenção sempre foi apenas se divertir com as colegas, todas com idades próximas da dela. Costumeiramente fazia pilhéria com algumas companheiras de classe. Elas não se zangavam porque a conheciam e sabiam que aquelas brumas não possuíam malícia, Pedrinha jamais seria capaz de menosprezá-las, cultivava aquelas gozações apenas para alegrar o ambiente. Nas provas, colava sem vergonha alguma. Chegava a escrever na coxa as questões que possivelmente seriam perguntadas. No meio do exame, levantava a saia para buscar as respostas. Ao seu lado sentava um dos seus compadres. Sem maldade, ele esticava o olhar para o lado dela e já ganhava uma bronca. Compadre! Pare de olhar para as minhas coxas! E ria de suas próprias travessuras.

A filha tinha obrigação de aprová-la no final do ano. Antes, recebera ameaça: Se me reprovares, não cuido mais do teu filho quando precisares.

Lembrou de algumas das professoras que não concordavam em dar-lhe o diploma. Mas a diretora da escola defendeu Dona Pedrinha, alegando que, caso não contassem com a alegria contagiante de Pedrinha muitos alunos e alunas teriam desistido.

Dia desses vi um poema num quadro da parede da casa de Dona Pedrinha e resolvi transcrevê-lo aqui. Desconheço quem é o autor, só sei que uma das filhas imprimiu e deu de presente para a mãe. Acho que o título foi adaptado, mas o conteúdo está no original.

 

 

O tempo e a pedrinha

E o tempo passou...

E eu... por ele, também!

 

Marcou meu rosto, minhas mãos, marcou meu coração!

Passou depressa. Tão depressa que nem sei.

Corri, da infância para a adolescência, da adolescência para a maturidade, correndo...

Cheguei à 3ª Idade.

Cheguei ao topo da colina do viver, mas o tempo não para de correr.

Aqui estou eu, e agora, o que fazer?

Orar, chorar ou ter prazer?

De todos, o prazer é que me agrada.

O prazer de sentir o encanto, de ser mãe, de ser avó.

Que felicidade, meu Deus, não vivo só.

Onde estou não sinto solidão,

Estou mais perto do céu, mais longe do chão.

De onde estou, enxergo bem melhor.

E o tempo vai passando... e eu ficando a esperar.

O momento em que o Pai vai me chamar a alçar um voo leve até Sua Morada.

Aí o tempo ficará, e eu irei para junto de Deus:

Quem ficar e quem me conheceu, pensando em mim, dirá:

 

Viveu!

 

Só eu, meu pai, meus irmãos e todos que a conheciam sabem como ela viveu, e muito. E sinto dolorida saudade e gigantesca falta dela. Com o coração apertado, revelo: ela é minha mãe...

       

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