O mistério e o fascínio da morte sempre intrigaram a humanidade. Para os faraós do Egito a imortalidade era certa; preparavam
o corpo, levavam seus objetos pessoais,seus animais de estimação, e até os empregados para a tumba. Afinal, ser um deus na
terra e reunir-se aos deuses do céu, sem nada para ostentar, era uma vergonha. A mesma hierarquia da terra seria reproduzida
na outra vida.
Os gregos e romanos tinham plena consciência da imortalidade dos deuses e da finitude humana. Consideravam loucos os cristãos
que pensavam viver após a morte se sacrificando e desprezando o corpo em vida. De fato, quem crê na imortalidade pode ser um
supremo egoísta, já que não quer dar lugar às crianças que chegam.
Mas por que existe a morte? Os cientistas descobriram que algumas bactérias ou vírus não morrem nunca. Felizmente, este não é
o caso do homem. Felizmente? Por acaso você quer morrer, escritor? Explico. Não quero morrer, mas morrerei. Quero entender.
Recentemente, uma publicação no noticiário da internet chamou-me a atenção, e abriu meus olhos para o problema da morte e da vida.
De acordo com matéria publicada no site Olhar Digital(14/09/2023), autoria de Mateus Dias, com o título "Quantas pessoas já
existiram na Terra até hoje?", aproximadamente 117 bilhões de seres humanos estiveram por aqui. 117 bilhões de almas viveram e
morreram neste mundo, desde 190 mil anos A.c. Hoje somos 8 bilhões. Os dados curiosos e obviamente duvidosos são do Population
Reference Bureau(PRB), em resposta a um questionamento da BBC. Para que serve a morte, então? Imagine se nenhuma dessas 117 bilhões
de pessoas estivesse morta até hoje, se fossem todas eternas. Mal conseguimos alimentar 8 bilhões, conseguiríamos comida para 117?
E os recursos naturais? O planeta está entrando em colapso com a população atual, estaria melhor com 14 vezes mais? Malthus sabia
qual era o problema. Tudo bem, o sistema econômico desigual piorou as coisas. Mas imaginem que ninguém morresse. Hitler, Mussolini,
Stálin, Franco, Médici, Bolsonaro, todos os piores criminosos também seriam eternos, inclusive as pessoas que você mais odeia.
Agora eu entendi por que a morte existe. Para manter o equilíbrio de sobrevivência da humanidade; portanto, ela é um bem coletivo, pois
retira de cena os atores aposentados e o excesso de bocas famintas, e é ainda um bem individual, pois nenhum canalha viverá para sempre, inclusive
o mau escritor, fique tranquilo. A morte desbasta, nivela, iguala a todos. É a justiça da natureza. Não há lugar para todos se ninguém desocupar o espaço.
Pense um pouco nas vidas novas que chegam. Imagine o tédio se tivéssemos que encenar a mesma peça com os mesmos atores, diretores e plateia
para sempre. Assim, saia de cabeça erguida e saúda o novo que chega.
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