O homem invisível espera ansioso o fim do martírio, a aula. Quantos professores se resignam diante da completa falta de vontade e do caos em nossas escolas.
Os alunos não querem, eles não vêem significado. Nem nós, educadores. Um misto de preguiça e desilusão paira sobre a sala de aula. Os mestres não podem
lutar contra a corrente. Entram na classe, escrevem algo no quadro, sugerem uma leitura e deixam a turma à vontade com seu bate-papo e seus celulares.
Ninguém presta a menor atenção. O professor é uma figura invisível. Ele senta-se na cadeira e espera o tempo passar. Folheia um livro, escreve no seu diário.
Enquanto isso, os alunos conversam, brincam, xingam, brigam e sujam a sala. O homem invisível espera ansioso o fim da tortura do ensino que não aconteceu.
Ninguém notou ou se importou com a sua presença. A internet é mais importante que um adulto ao vivo. Mais uma aula que não aconteceu enfim acabou. O homem
invisível se levanta e vai embora. É a hora do próximo invisível entrar. A mesma rotina se repetirá por todo o ano. Não dá para lutar contra a corrente indolente de
cumplicidade que tomou a escola. Depois de dez anos, uma avalanche de analfabetos e revoltados estará pronta para votar num fascista imbecil, para empunhar um
fuzil, e completar e o ciclo de miséria, a rima perfeita chamada brasil.
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