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Cronicas-->O sósia de FHC -- 10/08/2001 - 21:58 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A coisa começou a se complicar com o negócio de quererem cortar a luz dos fregueses da velha Light. Agora, era só ele ir fazer umas comprinhas na feira de sábado que sempre acaba levando laranjada na idéia.

Há três semanas que ele não levava fruta para casa - passava longe das barracas. Justo ele, que adora banana nanica e limão na caipirinha do sábado.

Anda tomando pinga pura, e depois fica declamando trovinhas para a patroa, quando não cai no choro. Quando ficava na caipirinha, o máximo que fazia era dormir embaixo da churrasqueira. Mas agora, só na base da branquinha, não há quem o aguente nas tardes de sábado.

Ele bem que tentou, mas a dona da pensão veio chiando: - Onde já se viu não trazer legumes e verduras da feira? E o cheiro-verde? Quer que eu tempere a comida com quê? Com o buço da sua mãe? Trata de me trazer tudo que eu botei na listinha!

Ele não contou nada para ela. Afinal, não ia ficar bem. Na última vez que adentrou pelo setor de legumes da feira, ficou meio invocado com a cara do feirante que, brandindo um nabo de uns 51 centímetros, tala larga, estava com cara de poucos amigos. E quando foi saindo, de fininho, ainda teve que ouvir desaforo: - Olha o home aí, gente! Nabo nele!

Preferia ficar no setor dos temperos, das pimentas-do-reino. Lá quase só havia mulheres. Aí até gostava da parecência: - Olha, igual que nem o presidente. Que bonitinho. É o avó que eu queria pros meus netos.
Ele sorria, comprava uns três quilos de tempero, e nem se lembrava das laranjas e dos nabos.

Mas era chegar em casa e lá vinha ladainha. Ele mesmo já estava fulo da vida com tanta injustiça. Que culpa tinha de ser a cara do homem? Se fosse parecido com o corcunda de Notre Dame, vá lá. Mas o presidente é um sujeito bem apessoado, cheio de leitura. Fala com gringo de igual para igual, nem tropeça na língua. Ele até que tinha uns ares de orgulho por tão nobre semelhança.

Mas na feira não funcionava mais. Agora a barra andava pesada. Depois que começaram a falar de apagão, esqueceram-se de tudo. Ninguém mais fala da inflação baixa, da tal de estabilidade financeira, etc e tal. O povo não tem memória mesmo.
- A quanto a dúzia da nanica, madame?
- Três real, doutor. Duas por cinco.
- Como? Não era um e cinquenta?
- E a inflação? Se eu não aumento não pago o leite dos bacuris.
Escondeu o rosto atrás da sacola e perguntou:
- Aceita dólar?
- Como é, amizade?
- Nada, deixa pra lá. Gracias!
Voltou correndo para casa e perguntou à esposa: - Dindinha, tem alguma revista com foto do Golbery?
- Bebeu de novo, é? Só se tiver lá no quartinho das tuas bagunças.
- Eu vou precisar do dinheiro da poupança. É caso de vida ou morte.
- Pra quê? Tá doente? A cirrose já te pegou?
- Não, é que eu preciso fazer uma cirurgia com o Pitanguy...







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