Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63248 )
Cartas ( 21350)
Contos (13302)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10686)
Erótico (13592)
Frases (51771)
Humor (20180)
Infantil (5604)
Infanto Juvenil (4952)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141315)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6357)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->brilhanta -- 19/08/2001 - 14:24 (ida lehner de almeida ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
B r i l h a n t a


Tinha uma memória prodigiosa. Tanto que, decorridos muitos anos após seu passamento, alguns raros cidadãos de Jundiaí ainda fazem dessa lendária figura o objeto de louváveis comentários a essa virtude. Vestia-se só de negro, num traje comprido e em enfeites, como a simbolizar um símbolo da morte, sua fiel amiga de todo o sempre.
Há cerca de um ano, talvez, prometi a amigos relatar em conto a origem e a vida dessa mulher, de costumes verdadeiramente pitores
cos. Ia a todos os enterros, conhecesse ou não os falecidos.e não
faltava às missas de sétimo dia encomendadas por intenção de suas
almas. Ao colher os demais dados sobre ela, tais foram os empeci
lhos, que me senti verdadeiramente frustrada e sem demora desisti,
resolvida a resgatar apenas em crónica a vida de Brilhanta. O fato ensinou-me que o que me falta é a vocação para pesquisadora biográfica de quem quer que seja, embora tenha a meu favor, hoje, as deficiências de locomoção que me impossibilitam trabalhos dessa ordem.
Mais de cem anos teria ela hoje e os parquíssimos informes obtidos aqui e ali, não só não mo permitem, como se afigura envolta em suaves e providenciais fumaças de confusão. Posso apenas imaginar que ela deveria ter sido suave menina, adolescente cheia de sonhos, tal como toda adolescente. Em claróes rápidos como o acender de um isqueiro, pequenas e remotas lembranças, de como.
ela realmente foi, de lugares que percorreu quando ainda se movia com os pés alados da infància, só pode calcular o precário pensa
mento..
Vejo-a então a caminho de algum evento, invàriàvelmente pela rua do Rosário, a segunda via em importãncia da cidade, que conta
va, à época, menos de cinquenta mil habitantes. Desconheço qual seja seu rumo. Seria o rinque de patinação, do mesmo nome da via pública, então no auge da moda, ou seria a sessão vesperal do cine Politeama? O fato é que percebo seu corpo fremir no aguar
do de um fato que, sei, nunca acontecerá.
Seria o encontro com algum namorado? Será que ela, jamais, teve
um namorado? Acredito que nunca entrou num rinque de patina
çao, nem ao menos assistiu a alguma fita de cinema. É que a me
mória me leva até o povo que sapeava as entradas dos locais de de diversão, no meu próprio tempo. Vejo-a no seu, entre o aglome rado de pessoas, menina de alta modéstia e de baixa pretensão.
Informaram-me que, quando de mais idade, ela vivia em compa
nhia da irmã.. Qual era seu nome? O informante não soube respon
der. Apenas quie faziam juntas tricó destinado a criancinhas, sendo fácil visualizar o produto do artesanato de ambas: - sapatinhos, gor rinhos, luvinhas, .casaquinhos e mais objetos em diminutivo. O me
lhor da remuneração estava nos elogios da freguesia, senhoras
prenhes da melhor sociedade.
. Nessa fase, suponho. já poderiam ter alguns gastos, alguma extravagància em seu cotidiano. Salvo pequenas rusgas, cabíveis entre duas ir mãs solteironas, que sabiam ser inapelável o fato de ter de residirem juntas até o fim, pareciam ser uma pela outra,.boas
amigas, enfim. Deviam ter um rádio. Antes do advento da televisão,to
do brasileiro possuia um aparelho radiofónico. Quem sabe, a par com
as novelas ( ah, o Direito de Nascer!) deleitavam-lhes os ouvidos sambas, choros e modinhas da música popular brasileira e as can çonetas napolitanas de sua origem.
Residiam as manas em casa modesta, quase dependurada em barranco, ali no início da rua do Retiro, quase no largo de Santa Cruz. A rotina das duas devia ser a de duas solteironas,- o café juntas, pela manhã, depois a visita ã venda, que expunha os seus artigos, em sacas, às portas de madeira, muito altas.
A mais velha, naturalmente, deveria enfrentar o fogão, objeto de prazer diário. Adorava quando o aroma dos temperos envolvia toda a casa, despertando nas duas a vontade antecipada de comer. Almoçavam em silêncio, de acordo com o que a mãe lhes ensinara.
A tarde era reservada para o tricó, depois vinha o jantar e eis termi
nado o dia, cujo ponto final era dado na rezam, celebrada na matriz, na hora do àngelus. Ouviam então o sonido dos sinos, anunciando a bênção e o término das orações. E é só.
De como Brilhanta se tornou a enciclpédia viva das datas de morte
de conhecidos e desconhecidos, é um mistério que ninguém soube decifrar. Se Deus lhe outorgou essa incríovel faculdade de memorizá
-las, e bem assim as da realizaçao das missas respectivas, porque sua mudez em relação a estranhos? Uma verz, encontrando-a na rua, indaguei-lhe sobre o falecimento de minha mãe. Sem hesitar, balbuciou: - 10 de janeiro de 1948.


A quem aprouver, lanço meu desafio




junho/oo


































Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui