Muito interessantes estes "programas políticos" veiculados pela novela das nove da Rede Globo, Porto dos Milagres. O final dela tende a ser um final interativo com um vencedor ao Governo da Bahia, segundo a trama. De um lado temos o António Fagundes e de outro o Marcos Palmeira.
Os personagens por eles estereotipados são típico destes folhetins. De um lado o político carismático, populista e demagogo. Faz e acontece. Aparece em programas de TV, beija criança, distribui chaveirinhos, camisetas em troca de votos dos menos favorecidos. O outro é o homem honesto, do povo, muito conhecido entre os seus, com o tom de liderança e igualmente carismático. Uma luta maniqueísta do bem contra o mal, como acontece em toda ficção.
Resta saber, se é uma alegoria, quem vai vencer esta "eleição". Dou minha humilde opinião sobre os atores uma vez que os personagens já são bem caracterizados. Ambos são bons em seus papéis e talentosos. Pessoalmente, prefiro o António Fagundes.
Mas é o fato de ser uma novela que vai marcar o embate. Votará-se no personagem, e sendo o telespectador um ser, como eu, dotado de preferências, alguém pode até analisar o ator. Não sei se pelo talento, talvez pela aparência. O que resulta num empate. O público feminino acha tanto o António Fagundes quanto o Marcos Palmeira homens bonitos, charmosos e sexies. Muito bem.
O final, entretanto, acabará sendo favorável ao bem nesse combate maniqueísta. Alguém duvida que o Guma será eleito o novo prefeito de Porto dos Milagres? Creio que não. Não acompanhei a trama inteira, mas os poucos momentos que assisti vi um Félix arrogante, corrupto e soberbo além de manipulador e assassino. Nunca alguém com estas qualidades seria eleito prefeito em lugar nenhum no mundo.
Porém o que aconteceria se os atores vestidos de seus personagens deixassem a disputa palavreada de lado e partissem pro corpo a corpo numa campanha realmente válida? Em quem votaria a dona-de-casa se ela encontrasse na sua rua o António Fagundes, na pele do rico Félix Guerreiro, posando para fotos ao lado de suas fãs, distribuindo fotos autografadas (em série, mas ele diria que foi com o próprio punho e dedicada pessoalmente a cada fã ), prometendo mundos e fundos? Tudo isso, claro, a bordo de uma lindíssima limusine. Iria esta dona-de-casa apenas ouvir as palavras de um simples pescador que não tem como financiar uma campanha suntuosa com santinhos, brindes, festas, mesmo que ele fosse o Marcos Palmeira?
As últimas eleições, que colocaram em seus cargos os senadores que aí estão e os políticos que estão sendo bombardeados com denúncias diárias mostram que a realidade não é tão bonita ou tão heróica quanto pregam os capítulos que assistimos durante a noite. Seria fantástico que a iminente derrota de Félix Guerreiro (do personagem, execrável, muito bem representado pelo António Fagundes) fosse a senha para que caíssem todos os outro de igual qualidade e fossem eleito, de vez, pessoas honestas, limpas, surgidas do povo. Enquanto uma coisa for uma coisa e outra coisa for outra coisa eleições desse tipo continuarão sendo coisa de novela.
Francisco Libànio
19/09/01
9:40 PM
