Como se não bastassem todos os preparativos para a cerimónia do casamento, os noivos ainda são obrigados a participarem de um curso obrigatório, e sem este, é impossível contrair matrimónio através do religioso. O salão estava cheio, casais sentados em meio círculo, esperando alguma coisa acontecer. Haviam muitos casais assustados, outros risonhos, e os irritados. Na recepção, eles receberam crachás com seus nomes, assinaram o livro de presença, juraram amor eterno, aceitaram suas responsabilidades, deram-se à s mãos e colocaram as alianças, beijando-se com ternura.
Matrimónio significa zelo de mãe, e zelar pelo matrimónio, ou fazei tudo que meu filho disser, de acordo as palavras de santa Maria mãe de Deus - rogai por nós pecadores - quando presenciou o primeiro milagre, o da multiplicação do vinho. Ainda bem que não existiam automóveis naquela época, pois, imagine só: Jesus Cristo incitando a venda de bebidas alcoólicas, e inaugurando uma distribuidora de bebidas no céu.
O Nazareno pode ser até bem legal, massa, é o ouro véio... O que incomoda mesmo é essa multidão insana que o segue, digo a igreja em si, até mesmo pelo fato de apenas alguns poucos padres, escaparem da pieguice e da ignorància espontànea. O papa não é nada pop, e os Beatles foram realmente mais famosos que Jesus Cristo.
O problema está no discurso ultrapassado, de que o dinheiro nada compra, e não trás felicidade, de que os bens materiais nada importam, e o importante é boa saúde da alma e a paz com Deus, de que a dureza da vida diminui, se você tem Jesus no coração.
Pregação como forma de sabotagem intelectual, e não digo isso, em analogia à capacidade intelectual dos Sumo-Pontifices, seus arcebispos, cardeais, e freis, mas na forma de alienação de seus sermões. Atestando ao povo, sua pomposa lobotomia, em forma de histeria coletiva, naquele velho discurso de que a felicidade não se compra. O dinheiro compra o que trás felicidade, os bens materiais são a causa dos sequestros, assaltos, assassinatos, e para a boa saúde é preciso bons planos de saúde e uma conta na drogaria, mas que não são nada se você tem Jesus no coração...
"Com Cristo, por Cristo e Com Cristo! Osana Bin Laden nas alturas! Ele está no meio de nós. Palavra da salvação... Amém".
De repente, um rapaz alto e robusto, seguido por uma dama esquálida, e por um baixinho carregando um violão de seu tamanho e forma, entram no salão, como fossem apresentadores de um programa de auditório. "Boa noite companheiros de trabalho! Eu sou o Junior, essa é a Cleide, aquele é o Adilson. Vamos estar aqui com vocês nesses dias, e vocês vão enjoar de ver nossa cara, de ouvir nossas vozes, escutar nossas canções, nossos conselhos, recomendações, além é claro de passar horas de tortura assistindo palestras sobre os deveres e os direitos do matrimónio".
_ Porra! De onde vem toda essa alegria!
_ Fica quieto.
"Depois de cantarmos e dançarmos hinos religiosos de uma nota só, vamos dar as mãos e rezar para abençoar o matrimónio. Vamos fazer um círculo e vamos nos apresentar uns aos outros, vamos dizer o que sentimos sobre nossa alma gêmea, usando apenas uma palavra".
"Depois de muito discutirmos sobre o aborto, sobre as responsabilidades paternas e maternas, sobre os deveres conjugais, sobre a tolerància mútua e sobre as dificuldades financeiras, sexuais...".
_ Só podem estar me achando com cara de palhaço!
_ Fica quieto.
"Depois vamos ouvir nosso sacerdote discursar sobre o ato sexual, e de que todo esperma é sagrado... E que na época do namoro é tudo mil maravilhas e agora no matrimónio, vocês terão de conviver também com seus defeitos. O matrimónio é na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, portanto queremos ouvir de cada casal, apenas uma coisa que gostariam de mudar no seu companheiro?".
_ Não quero mudar nada...
_ Eu também não...
_ Que fosse mais calma...
_ Que deixasse de pirraça...
_ Que fosse compreensiva...
_ Mais responsável...
_ Que fosse feliz!
_ Menos otimista?
... E todas as respostas mais óbvias, mas que necessitavam de toda a capacidade cerebral dos participantes, ou não. Uma prova concreta do sucesso da experiência realizada pelo catolicismo, através dos sermões alienatórios e das práticas inquisitórias da lobotomia episcopal, ou não. De que outros modos poderiam responder esta questão, sem o uso do sarcasmo, ou da ironia, ou até de humor negro? ...Ou não. Tudo isso, resultado de uma lobotomia bem sucedida, ou não.
_ Eu queria que ele mudasse de sexo!
_ E eu, que ela parasse de me bater!