No beco escuro, a chuva fina molha meu cabelo
O vento frio corta a minha face e congela minhas mãos
Nas paredes do beco, seres se movem freneticamente
Os faróis dos carros faz com que estes seres realizam uma estranha dança
Alguns se arrastam no chão, outros parecem levantar vóo
Olho para eles apenas de relance, tenho medo de ver seus rostos
Sinto um imenso alívio quando saio do beco para a rua movimentada
Mas um calafrio me avisa que há algo errado
De alguma forma um destes seres saiu do beco e esta me seguindo
Sei que não devo olhar para trás, mas não resisto
Paro e me viro
Lá esta ele, deitado no chão, escondido em seu manto negro
As pessoas que passam ao meu redor parecem não notar o estranho ser
Uma delas até parece pisar em sua cabeça, mas ele continua imóvel, frio, impassível
Não resisto a tentação de tocá-lo
Minha mão aproxima-se dele e ele parece estender a sua em minha direção
Lentamente, nossas mãos se tocam...
Então, algo estranho acontece
Não sinto minha mão tocá-lo, mas a dele tocar a minha
O pànico toma conta de mim
Com a outra mão, tento arrancar o manto negro que cobre o seu rosto
Quando toco seu rosto ele começa a moldar-se e adquirir cor
Para meu espanto, eu conheço o rosto no asfalto molhado
Como em um espelho negro, vejo a minha própria face refletida no ser negro
E, como se não bastasse, o corpo inteiro do ser começa a adquirir forma
Estagnado pelo horror, fico observando o ser levantar-se como um recém-nascido
Como descrever o terror e a aflição que se apossa de mim
Quando noto que meu corpo começa a sumir e perder cor
O ser que agora possui meu corpo olha para mim e sorri
Oh! Desgraça, que terrível maldição se abateu sobre mim
Estou condenado a viver eternamente na escuridão