Nesta tarde algo terrível aconteceu. Senti um estrondo no alto de minha cabeça - que estava exposta a toda sorte de gestos , já que me encontrava pequena, ajoelhada, olhando para o chão distraída . De repente, o estrondo, a dor, vidros quebrados misturados aos meus cabelos.
Olho ao redor , há pedaços de espelho pelo chão, alguns mostram o meu rosto - surpresa, vergonha , dor. Fui atingida.
Olho para cima. Minha mãe está de pé, corpo voltado em minha direção, olhar de fúria. Muita.
Não sei bem porque fui atingida. Tudo se passa em instantes. Permaneço de joelhos e olho para a minha amiguinha vizinha ( quem é ? qual o seu nome ? (o impacto de tudo, tirou-me a lembrança da amizade ) . Dois olhos arregalados, assustados voltados para mim. Cena sua, particular, que só aumenta minha dor e vergonha.
Fui atingida por dentro também.
Tudo se passa em instantes. Minha companheira levanta-se , retira-se quase correndo. Não a vejo sair - há somente a cena de humilhação.
Não há cortes, pelo menos não sinto o sangue escorrer para o meu rosto, mas estou muito machucada por dentro. Os cacos estão no chão , têm pontas e refletem a luz do dia e a minha dor. (Maria A - 08/02/2000)
"Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante."
Declaração Universal dos Direitos do Homem - Art. V