Como alegre cavaleiro andante, eu cavalgava intrepidamente pelos caminhos dos meus domínios. Incauto, a aventura corria em minhas veias, e a mim só importava ultrapassar a próxima colina. Pulsante de vida e transbordante de euforia, eu seguia pela vida sorvendo a grande aventura do viver. De sorriso em sorriso, fui conquistando outros castelos, e a cada conquista, baixava minhas pontes levadiças para emoções maiores. Mesmo quando, entrincheirado nas ameias, eu combatia minhas solidões ocasionais, acompanhava-me também lá o desejo de ir além do alcance dos meus olhos...cavalgar até onde ninguém ainda havia ido e me maravilhar com a beleza da descoberta. O escudo de minhas dúvidas protegia-me da banalidade de minhas certezas, e o fio afiado da espada da curiosidade mantinha-me alerta à s novas sensações. Dúvidas, impaciência e curiosidade eram o tripé que me sustentavam nas poucas vezes em que o sorriso me abandonava. De conquista em conquista sorvi os doces vinhos de amores vários, descansei á sombra dos campanários e, sempre esperando pelo novo embate, aguardei pela grande conquista final. Seria uma grande batalha, eu pensava, e imaginava as muralhas que teria que transpor. Então um dia, sem que nem me desse conta, eu estava no centro dessa luta insana. Ela veio em forma de amor...e diante de teus olhos meigos, meus braços amoleceram, minha espada foi ao chão. Mortalmente ferido pela flecha de Cupido, cambaleei sem entender de onde viera o golpe. Que arqueiro seria esse que com tal precisão atingiu-me sem que eu mesmo percebesse? E de armadura destroçada, o escudo esfacelado, e a espada quebrada, desta vez fui vencido por tua voz maravilhosa. Lentamente tu chegaste, me envolveste e me amaste, tomando-me por inteiro, e nunca fui tão feliz por ser o teu prisioneiro.
* * *