O tema de hoje é sobre o beijo. Beijo que demonstra amor, beijo que demonstra carinho, beijo que demonstra agradecimento. Enfim, existem diversos tipos de beijos, mas existe um que a gente nunca esquece. O primeiro beijo.
Particularmente, não é o primeiro beijo que tornou-se inesquecível para mim, e sim o meu "quase primeiro beijo", que hoje, agradeço à todos os santos por ter sido "quase", pois seria esquecível, caso o beijo concretizasse. Leia e veja se não tenho razões para agradecer.
Eu tinha mais ou menos 11 anos, quando aconteceu o meu "quase primeiro beijo". Existia uma garota em meu bairro, alguns anos mais velha que eu, que carregava consigo um apelido - talvez um pouco sugestivo - de Ediqueixo.
Este maravilhoso apelido de Ediqueixo, surgiu graças a fusão de Edilene com queixo, que para um bom entendedor, já imagina o "pequeno" queixo que a garota carregava junto ao seu maxilar. Neste instante, limpe a sua mente e pense em um rosto qualquer. Agora aumente a sua testa, empurre os olhos e o nariz para dentro e o tamanho que você imaginou para a testa, multiplique por dois para calcular o tamanho do queixo. Pronto !! Você está vendo a Ediqueixo em sua mente. Olhando de perfil, seu rosto formava a silhueta da lua crescente.
Início de adolescência é assim, todos passam por essa pressão do primeiro beijo. Sem contar que a pressão aumenta, conforme os seus amigos vão dando os seus primeiros beijos e você vai ficando para trás e para trás. Comigo foi assim, de toda a turma, ficara eu e mais quatro amigos, que prefiro não relatar os seus nomes para não comprometê-los, mas vou entitulá-los com seus apelidos de infància, para que possam distingui-los no texto.
Kichute, Tatu, Rainha-Diaba, Neguinho do Pastoreiro e eu. Estes eram os "cabaços"(gíria usada para chamar pessoas que não tem experiência em determinado assunto ou atividade) que eram zombados pelos que já haviam dado o primeiro beijo.
Graças a pressão de nunca haver beijado, o desespero foi aumentando e acabaram criando um plano para nós - os cinco "virgens de boca"- tirarmos a boca da miséria e conseguir beijar alguém.
O plano era encontramos com Ediqueixo atrás da igreja, um por vez e beijá-la, pois ela havia acertado com um amigo e aceitado em nos ajudar.
Quando me falaram que estava tudo combinado, que era só chegar, fechar os olhos e beijar, achei que era a nossa grande oportunidade e ao mesmo tempo o fim. Eu? Beijando a Ediqueixo? Não conseguia imaginar.
Senti que todos queriam ir logo, mas ninguém tinha coragem. O meu amigo Kichute tomou a frente e foi o primeiro. Chegou ao lado dela, conversou uns cinco minutinhos e a beijou. Todos olhavam um para o outro, sem saber se ria ou se criava coragem para encarar aquela boniteza de frente.
O Kichute voltou e logo em seguida foi o Neguinho do Pastoreiro encarar a Ediqueixo. Alguns minutos de conversa jogado fora e o beijo. Que loucura estávamos cometendo! O Neguinho do Pastoreiro foi o que deu o beijo mais longo.
Faltava eu, o Rainha-Diaba e o Tatu. O Rainha-Diaba se propós a ser o próximo, que foi aceito por mim e por Tatu, afinal eu ainda não tinha coragem para enfrentar aquela mistura de queixo comprido com Tina Tuner e acredito que o Tatu também não, com isso o Rainha-Diaba não perdeu tempo e chegou beijando a Ediqueixo sem conversa. Agora só faltavam dois. Não percam as contas!!
Eu não queria ser o primeiro e muito menos o último. Imagina a fusão de salivas que estavam na boca da Ediqueixo. Era melhor continuar "virgem de boca" a encarar aquela situação. Porém em nossas mentes, estavam nossos amigos gozando da situação de nunca ter beijado e isso era o que nos incomodava, sem contar que agora restava apenas eu e o Tatu.
Acredito que pensando nas possíveis gozações, Tatu criou coragem e também beijou aquele "queixo". Era o fim, faltava apenas eu. Neste instante pensei realmente em encará-la, mas era impossível. Se ao menos ela fosse um pouquinho bonitinha, só um pouquinho, mas não era e isso me impedia de encontrar coragem. E nesse vai e não vai, Ediqueixo acabou se irritando com a minha enrolação e indo embora para minha tristeza (ou alegria), concretizando ali o meu "quase primeiro beijo".
Depois disso, todos continuaram me gozando, até acontecer naturalmente o meu primeiro beijo, uns dois meses depois.
Ainda hoje, mais de dez anos depois, todos lembram deste fato, porém as gozações mudaram de lado. Eu que fui o último a beijar e tive que aguentar por algum tempo as provocações de meus amigos, torturo-os fazendo recordar daquela noite "maravilhosa" que tiveram com a Ediqueixo, marcado pelo primeiro beijo de cada um e pelo meu "quase primeiro beijo".