Eis que aqui me encontro, curvado e diante d "A BAGAGEM DO VIAJANTE", para ler o que já li e nada entendi. São Cronicas diversas que só agora recebo seu valor íntimo e universal. Melhor é não ler muito, arrebentando três Cronicas ao fim do dia, porque, caso contrário, corre-se o risco da prematura miopia dos sentidos, tão propagada em dias modernos e própria da leitura dinàmica.
Respeito cada página, lendo vagarosamente, tacteando cada título, inventando significado para as palavras das quais, nem de longe, quero saber o real significado. Curioso para cair nas armadilhas da linguagem e no pequeno aprendiz que sou, desarmá-las no intento de obter destas o encanto oculto que as possui.
A sombra melancólica, arrastada, impressa na imagem do escritor, com seu olhar atencioso e pronto a capturar detalhes que passam despercebidos aos olhos da maioria de nós, é o que me fascina. Subtraem-me as loucuras espalhafatosas e sinto querer apenas o sossego esquecido. Acho tais pensamentos meus muito insinuantes ao garoto que sempre fui, solto no meu pequeno espaço, condicionado a limitar as corridas pelo corredor de minha antiga casa. A criança que demorou a ler, mas que curiosamente aprendeu rápido a tabuada, hoje não gosta de números e se diverte lendo e escrevendo, sabe o que são mudanças.
Permaneço quieto na imprecisão das horas que se vão lá fora, com o livro encostado à minha esquerda, trafegando por caminhos e idéias disjuntas, querendo buscar do nada, algo ou alguém.